Dois Brasis: o que mata pessoas trans e o que paga para transar com pessoas trans
O Brasil continua na primeira posição na lista dos países que mais matam travestis e transexuais no mundo. Os números estão no levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgados nesta quarta-feira (29), e usam informações da ONG alemã Transgender Europe (TGEU) para fazer a comparação com outros países.
No ano de 2019, a associação brasileira confirmou 124 assassinatos de pessoas trans, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e 3 homens trans. O número é menor em relação ao ano anterior, quando 163 pessoas trans foram assassinadas no país. O pico histórico da medição (feita desde 2008) é 2017, quando 179 pessoas foram mortas.
A metodologia do levantamento lança mão de pesquisa de casos relatados em reportagens jornalísticas. Há, ainda, registros baseados em depoimentos de testemunhas e instituições LGBTI. A associação reconhece a fragilidade dos dados, e critica o governo pela não existência de dados oficiais sobre os assassinatos de pessoas trans no Brasil. Outra queixa aponta para uma suposta subnotificação dos crimes.
29 de janeiro é, desde 2004, reconhecido como Dia da Visibilidade de Tansexuais e Travestis. À época, 27 pessoas trans estiveram no Congresso Nacional, em Brasília, em uma ação que pedia “mais respeito”.
O respeito, mostram os números apresentados acima, ainda não veio.
Mais intrigante que isso, só os dados que mostram uma outra face (igualmente violenta) do estigma que os representantes da letra T da sigla LGBTQIA+ sofrem: a fetichização.
O Google Trends, ferramenta do Google que analisa tendências de busca, mostra que, em um ano, a busca pela palavra travesti , por exemplo, se manteve estável.
O valor 100 na linha vertical representa o pico de popularidade de um termo no serviço de busca. A palavra travesti, de janeiro de 2019 a janeiro de 2020, oscilou entre 75 e 100, se mantendo próxima do pico.
As cinco principais consultas relacionadas à palavra travesti são: travesti com travesti; travesti pornô; sexo travesti; travesti comendo travesti; travesti comendo. Todos os outros 20 termos buscados mostram a palavra travesti relacionada com prostituição ou conteúdo pornográfico.
Os números sugerem que há um Brasil que espanca e mata pessoas trans e um Brasil que se masturba e paga para transar com pessoas trans. Ou talvez seja o mesmo país.
Para quem está em São Paulo
A Prefeitura e o governo de São Paulo vão oferecer serviços às pessoas trans nesta quarta-feira (29).
Serviços de emissão de RG e certidão de nascimento com nome social e pré-seleção para vagas de emprego em empresas que têm setores voltados à diversidade estão entre as atividades.
A programação do Dia da Visibilidade Trans inclui ainda palestras sobre mercado de trabalho, terapia hormonal e performances artísticas. Os serviços vão ocorrer no Largo do Arouche, na República, entre 9h e 16h.