A TV sem cores

Renan Sukevicius

A série Queer Eye volta ao catálogo da Netflix no dia 5 de junho. No programa, cinco apresentadores reformam casas, transformam visuais e levantam a auto estima de quem se inscreve.

Te pareceu familiar? Pois é, nada de muito diferente do que Luciano Huck e Rodrigo Faro fazem atualmente e do que Netinho de Paula e Gugu Liberato já fizeram na tv aberta dos anos 90 e 2000.

Tenho passado tempo demais em frente à tv nestes quase três meses de home office e me peguei pensando na pouca diversidade que nossa tv aberta tem.

Nas telenovelas, os beijos entre personagens do mesmo sexo ainda são alvo de debate, ainda que haja outras tentativas exitosas de debater diversidade, como na novela Bom Sucesso, finalizada, que abriu espaço para a atriz trans Gabrielle Joie.

Nos programa esportivos, zero espaço para LGBTs desde a saída de Fernanda Gentil do departamento de esporte da TV Globo. Nos programas de humor, há ainda uma enxurrada de personagens LGBTs totalmente estigmatizados.

No jornalismo, foi outro dia que o primeiro jornalista assumidamente gay apresentou o Jornal Nacional. Foi numa edição comemorativa pelos 50 anos do mais tradicional telejornal do país. Levou meio século.

No streaming, Queer Eye mostra às emissoras de TV brasileiras que não é preciso inventar a roda pra se ter um pouco de diversidade.

Se tivéssemos figuras como Karamo Brown ou Jonathan Van Ness na tv aberta entregando casas reformadas ou dando tapas no visual alheio saberíamos que essas não são iniciativas tomadas apenas por homens heterossexuais catapultados à popularidade.

Aliás, Luciano Huck, justamente por sua imersão por comunidades e rincões do Brasil em pautas de seu Caldeirão, despertou politicamente. Este despertar é motivo de especulações sobre uma possível candidatura a uma eleição presidencial do comunicador.

Netinho de Paula, conhecido pelo quadro Dia de Princesa nos anos 2000, figurou por quase uma década como político.

A TV é a fábrica de sonhos, não? Enquanto só o binarismo brilhar nas telinhas, a diversidade vai viver sempre tendo pesadelos. Ou vai sonhar no streaming.