LGBTs ainda precisam de autorização para ser quem são

Renan Sukevicius

 

Se você mantém uma relação com um parceiro ou parceira e decide juntar as escovas dentes, formalizando a união num cartório e estendendo para, quem sabe, um cerimônia religiosa seguida de uma baita festa você é privilegiado. 

Ainda que haja impedimentos financeiros ou, sei lá, uma pandemia no meio do caminho, você pode ao menos fazer planos.

Perceba, você pode não ter dinheiro e sua família e a família do seu parceiro ou parceira podem até viver em pé de guerra tal qual as de Romeu e Julieta. Mas o Estado permite a união, a sociedade não vai condená-la.

Privilégio, neste caso, não é necessariamente ter mais do que outro. É ter o suficiente e conviver com quem não tem nem o mínimo.

Ezequiel Bechara/AFP

No mundo todo há outros casais que mantém relações sólidas, querem juntar as escovas de dentes, mas estagnam quando se perguntam: nós podemos fazer isso no nosso país?

Uma cerimônia tão tradicional pode ser tabu em dezenas de países quando os noivos são do mesmo sexo. Por isso, ainda é notícia quando algum lugar do planeta estende esse direito a todos.

Nesta semana, a Costa Rica foi o primeiro país da América Central a liberar casamentos a todos os cidadãos. Por outro lado, em mais 50 nações apenas ser uma pessoa não-heterossexual podem render cadeia (prisão perpétua em alguns casos) e até pena de morte. Imagine se casar.

Dunia Araya e Alexandra Quiros foram uma das primeiras a se casar na Costa Rica – Ezequiel Bechara/AFP

Estes países também não são o destino de viagem ideal para LGBTs. Não à toa, LGBTs se perguntam no planejamento das férias se podem mesmo ir a determinado destino, se não vão apanhar, ser presos ou mortos pelo Estado por serem quem são.

Às vezes, LGBTs se perguntam se podem entrar num estádio ou passar por uma rua. Ou por uma mesma calçada cheia de gente.

Às vezes, LGBTs se perguntam se podem chegar numa festa da família acompanhados do parceiro ou da parceira.

E muitas vezes a resposta é não. Não podem.

Uma sociedade não é igualmente livre quando uma parcela dela precisa se questionar o tempo todo se pode ser quem se é.