Em podcast sobre cultura pop, gays discutem também questões geracionais
Foi durante os intervalos da gravação de outro podcast, o ‘Estamos Bem?’, que os jornalistas Thiago Theodoro, 38, apresentador, e Felipe Dantas, 27, editor de som, perceberam que apesar de serem homens gays, brancos, cisgênero e moradores de São Paulo, havia grandes diferenças entre eles. E o ano de nascimento de cada um poderia ser a resposta para essa percepção.
Quando a vivência gay era pauta das conversas de bastidor, a década que os separa parecia um abismo. “A gente começou a aprender um com outro sobre coisas distintas. O Dantas falou que poderia ter um bom embate”, relembra Theodoro, que trabalha há 15 anos no segmento “teen”, com parte deste tempo dedicado à revista Capricho, onde foi editor-chefe.
“É tipo quando a Madonna gravou com a Britney, sabe?”, brinca sobre a parceria que acabou na criação do programa ‘E aí, gay?’, disponível em todas as plataformas, com 17 edições publicadas e mais de 80 mil plays.
“Era impensável a gente ter as discussões que temos hoje, falando sobre LGBTs, sobre diversidade, sobre o que é ser não-binário, sobre transexuais. A gente [jornalista] foi batendo na porta, forçando a pauta. O jornalismo está correndo atrás”, analisa Theodoro.
Parte do atraso das discussões na imprensa sobre diversidade pode ser creditada ao medo de represálias das mais variadas ordens que jornalistas têm ao assinar estes trabalhos. Theodoro lembra de quando foi convidado, anos atrás, para escrever uma “coluna gay” numa revista e “todos os diretores disseram pra não aceitar, porque isso acabaria com a minha carreira”, relembra.
“É uma saída do armário”, classifica o jornalista, sobre poder levar ao ar, anos depois, um programa chamado ‘E aí, gay?’, ainda que sua orientação sexual já seja de conhecimento de familiares, amigos e colegas de trabalho.
Ainda assim, Theodoro e Dantas reconhecem o espaço de privilégio que têm, sobretudo diante das outras letras da sigla LGBTQIA+. “A gente se coloca nesse lugar quando vai fazer qualquer coisa. E questionar nosso lugar é uma novidade. Era pra gente estar fazendo isso há muito tempo”.
Para diversificar os episódios, os apresentadores tentam buscar fontes que tenham lugar de fala, como no episódio sobre falta de privacidade da comunidade LGBTQIA+.
“Mas, no fim do dia, são dois homens gays, brancos e cisgênero no podcast. Eles têm algo a acrescentar à discussão? Estamos descobrindo se sim ou se não”, finaliza o apresentador.