As zonas livres de LGBTs na Polônia

A Polônia não tem vergonha de dizer quem tem áreas livres de LGBTs. É como se gente que não segue um padrão heteronormativo fosse um tipo de praga que pudesse ser exterminada com uso de pesticida.

O vice-ministro de ativos estatais, Janusz Kowalski, questionado se todo o país deveria ser uma “zona livre de LGBT”, respondeu que, acima de tudo, a Polônia deveria estar livre da ideologia LGBT. A lógica é sustentada, segundo ele, pela Constituição, que só reconhece como família a união entre homem cisgênero e mulher cisgênero.

O posicionamento do político vem depois de sanções financeiras que a União Europeia impôs a seis cidades polonesas que se declararam “livres de LGBTs”. Resta saber se estas medidas têm peso mesmo diante de um projeto de poder legitimado pelo voto. A Polônia reconduziu à presidência o candidato que afirmou que a “ideologia LGBT” era pior que o comunismo. Andrzej Duda recebeu a maioria dos votos por isso. Ou apesar disso.

Andrzej Duda, presidente reeleito da Polônia – Janek Skarzynski/AFP

Eliminar LGBTs de países como se elimina pragas de lavouras parece ser o passo seguinte de políticos populistas de extrema direita que martelam em seus discursos que a família tradicional está morrendo.

Pode parecer uma simples disputa de narrativas, às vezes essa retórica aparece, sei lá, numa discussão hipotética sobre se um possível homem trans pode protagonizar uma também hipotética campanha de dia dos pais de uma possível marca de cosméticos.

Não é uma teoria. É um jogo de tabuleiro imposto por extremistas, com peças graúdas,​ com o objetivo de decidir quem pode sobreviver e quem não pode, a partir de padrões de gênero, afetividade e sexualidade. E a Polônia, no voto, decidiu que LGBTs não têm o direito de existir. Ao menos por lá.


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