Migalhas aos desajustados
Se posicionar na sociedade como LGBT é tentar ver sempre o copo meio cheio. Sua mãe pode não aceitar seu parceiro, mas você fica feliz por não ter sido expulso de casa. Seu pai diz que não te entende, mas te respeita. Três amigos se afastam, uns 20 desfazem amizade no Facebook, mas outros dois continuam te frequentando.
São migalhinhas de afeto que sobram a partir da saída do armário, evento quase sempre traumático e dramático. Tem muito choro, muito “onde foi que eu errei” e, quando acaba bem, termina com aquele clichê “a gente vai continuar te amando, independentemente de qualquer coisa”. Por qualquer coisa, entenda “com quem você se deita”.
Quando não existem, essas migalhas de compaixão são substituídas pela violência, como bem demonstram os casos de homotransfobia.
A fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, chamando o homossexualismo — termo em desuso há 30 anos — de desajuste, não usa sequer o abominável argumento da “cura gay” como solução.
Ribeiro coloca a homossexualidade na caixinha do irremediável, fruto de um suposto desarranjo familiar, quase um DNA maligno.
O Estado — que não é pai, mãe ou amigo de ninguém — parece não se preocupar em lançar aos LGBTs qualquer migalha de compaixão, apenas falas homofóbicas do tamanho de uma uma bigorna, direto na cabeça.