O lugar de fala
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi questionado sobre a escolha de área de estudos que faria se estivesse começando hoje sua vida acadêmica. A pergunta foi feita pelo jornalista Paulo Markun nesta segunda-feira (28), durante o programa Roda Viva, da TV Cultura.
O tucano tergiversou na resposta. Mas minha inquietação morou na pergunta. Aqui vai a transcrição de parte dela. “O que o senhor pensa sobre esse debate do lugar fala, que torna muito difícil um intelectual branco hoje em dia estudar e analisar as questões do racismo no Brasil?”. FHC estudou as relações raciais entre negros e brancos no Brasil Meridional, na USP.
Pode, um Fernando Henrique, homem branco, estudar o racismo em 2020 como o fez em 1955? Entendo que sim. O debate sobre lugar de fala não deve ter o propósito de excluir quem quer que seja.
Os brancos precisam participar das discussões sobre negritude e raça assim como heterossexuais precisam discutir questões LGBTs. Brancos têm raça; héteros têm gênero, afetividade e sexualidade.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pode discutir questões LGBTs? Entendo que sim. Como cidadão, ministro ou pastor –ainda que o faça de maneira quase sempre preconceituosa. A novidade, trunfo do lugar de fala, é que hoje há LGBTs que têm espaço e voz para corrigi-lo e criticá-lo, como quando ele insiste em chamar orientação sexual de opção e homossexualidade de homossexualismo.
O “lugar de fala” esta aí para redividir os espaços de debate, não para excluir debatedores da arena.