999 dias sem Marielle
Mortes parecem ser catalisadoras de mudanças. Dois exemplos: Marielle Franco foi assassinada e parece ter encorajado mulheres negras, periféricas e LGBTs a entrarem e permanecerem na política; João Alberto apanhou até morrer dentro de uma unidade do Carrefour e deve mudar o esquema de treinamento de colaboradores e o programa de carreira pra negros e negras na empresa.
Estes olhares para estas duas mortes tão dolorosas servem quase como uma tentativa de tentar buscar algum sentido, de ver alguma humanidade no que, na real, é só brutalidade.
Mas olhemos ao redor. Como é que mais duas crianças pretas e periféricas são assassinadas no Rio de Janeiro e não estoura uma revolução neste país? Como é que os ataques racistas à prefeita eleita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota), mulher negra, não mobilizam toda a classe política?
Será que o Brasil tá atônito, em queda livre, ou no fundo, bem lá no fundo, nosso racismo nos faz acreditar que todos os pretos e pretas que padecem mereceram?
Por que é que se leva tanto tempo para solucionar um crime? Quem mandou matar Marielle. E por quê? Hoje são 999 dias, amanhã 1000. Quantos mais? Antes foi Marielle e João; agora Emilly Vitória e Rebecca Beatriz. Quantos mais?