A educação levou mulher trans à bancada de um jornal da TV bengali. E aqui?
Tashnuva Anan Shishir, de 29 anos, entrou para a história como a primeira apresentadora trans de uma televisão de Bangladesh. A estreia se deu no dia Internacional da Mulher.
Segundo a BBC, Tashnuva fugiu de sua cidade natal, morou sozinha na capital Dhaka, sobreviveu a intimidações, agressões e até tentativas de suicídio, e conseguiu ingressar na universidade.
“Nunca saí da escola. Meu sexto sentido sempre me disse para continuar estudando. Se eu continuar lendo, poderei ir a algum lugar”, disse ela ao serviço Bengali da rede pública britânica.
Aqui no Brasil, não se tem notícia de repórteres ou apresentadores transgênero. Nas redações, não se vê profissionais trans. É que nas faculdades são poucos, também, os alunos trans.
Nos últimos anos, o acesso à universidade foi facilitado por meio de medidas de programas voltados a minorias étnicas e raciais de baixa renda e pelo endosso ao uso do nome social, por exemplo. Mas não é o suficiente. Ainda somos o país que mais mata pessoas trans no mundo.
Segundo a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 70% das pessoas trans não concluem o ensino médio e apenas 0,02% chega ao ensino superior.
Eu mesmo, nas quatro redações por que passei, nunca trabalhei diretamente com uma pessoa trans. Quando cursei jornalismo, nenhuma pessoa trans recebeu o diploma comigo. Certamente, assim como eu, muitas pessoas trans, têm o jornalismo como uma missão. Onde elas estão?
Em Bangladesh as coisas não menos piores. Cerca de 1,5 milhão de pessoas são trans e enfrentam discriminação e violência, e têm a prostituição como uma das únicas alternativas de trabalho.
O caso de Tashnuva Anan Shishir demonstra que trangêneros e travestis são capazes de ocupar outras áreas, inclusive aquelas de prestígio, desde que tenham condições de se preparar. A sociedade quer isso?