Anyky Lima: a travesti que pôde envelhecer

Morreu na manhã desta quarta-feira (14) em Belo Horizonte a travesti e ativista LGBT Anyky Lima, aos 65 anos. Ela estava em tratamento contra um câncer no reto, descoberto há um ano, já em estágio avançado. 

Chegar à chamada terceira idade é por si só um grande feito quando se trata da população trans. Anyky era velha e se orgulhava disso.

Anyky Lima – reprodução/Instagram

“Esperamos que ela tenha um descanso merecido”, lamentou Keila Simpson, presidente da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), que confirmou o falecimento da amiga.

Aos 12 anos, Anyky foi expulsa de casa, no Rio de Janeiro, por ser LGBT. Na rua, trabalhou até os 50 anos como profissional do sexo. “Eu conheci o amor, eu conheci o dinheiro, eu conheci tudo nesse lugar [na rua]. Então eu não posso dizer que a prostituição e a zona foram ruins pra mim. Foi um aprendizado para que eu pudesse sobreviver”, disse Anyky em entrevista ao Projeto Colabora.

A ativista relatou ter sido detida por diversas vezes durante a ditadura militar, ter perdido amigos e colegas de trabalho durante o período mais duro da pandemia de HIV e ter sofrido até seus últimos dias os efeitos perversos da aplicação de silicone industrial. “Tudo o que eu consegui foi com meu corpo, minha luta”, definiu Anyky, em entrevista publicada em 2018.

Diante de sua máquina de costura, vó Anyky, como era chamada por muitos LGBTs, fez pequenas revoluções.”Eu desejo que as ações que ela fez aqui, tirando animais da rua, tirando pessoas em situações de rua, sejam reconhecidas e não tenham fim”, desejou Keila.

“Ela nos ensinou a não desistir, a ir buscar e fazer valer nossos direitos. Anyky é sinônimo de luta”, definiu Gisella Lima, coordenadora de projetos que morou por uma década com a ativista.

Anyky foi presidente do Cellos-MG (Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais) e representante da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) no estado.

O corpo dela será sepultado nesta quinta-feira (15), em Belo Horizonte, em cerimônia restrita devido à pandemia de coronavírus.