O agrogay
“Agricultor e agrogay”. Foi assim, com o apelido recebido de seus fãs na rede social TikTok, que Ivan Rangel, 27, disse que queria ser apresentado neste texto.
O termo agrogay é uma referência a uma outra expressão, usada bastante na internet: agroboy. É aquele cara normalmente branco e hétero, com alguma grana, do interior ou não, e que escuta sertanejo. O playboy do campo, digamos assim.
Quando começou a postar os vídeos, surgiram comentários como “agro pop, agro gay”. “Achei estranho, mas depois gostei da ideia. O agro é pop, o agro é tudo, o agro é gay. Essa é a piada que eu mais recebo”, revela.
Até os 19 anos, Rangel afirma ter vivido como hétero, mesmo sabendo, desde os 12, que era gay. “[Sair do armário] foi um transtorno imenso com a família, com os amigos, com os vizinhos das fazendas daqui. Essa pressão que criam, de não poder ser sensível na zona rural, é muito grande. Isso pesou muito na minha decisão de me assumir. As pessoas cobram muito uma masculinidade da gente. E a gente acaba mantendo essa masculinidade”, conta o agricultor e agrogay.
Rangel diz morar na fazenda dos pais, na zona rural de São Pedro do Suaçuí, em Minas, cidade com pouco mais de 5 mil habitantes, distante 300 quilômetros de Belo Horizonte. Ele trabalha para os pais e também em propriedades vizinhas no cuidado de animais e no cultivo de frutas, legumes e verduras. No tempo livre, faz vídeos para o Tiktok.
Há algumas semanas, o cantor sertanejo Rodolffo, que forma dupla com Israel, foi bastante criticado por militantes do movimento negro e LGBT por declarações homofóbicas e racistas que fez no programa Big Brother Brasil, da TV Globo. O artista se justificou, dizendo que, por ser do interior, é um pouco “chucro”.
Rangel concorda com o ex-BBB de que no interior há, sim, gente “mais chucra”, mas não pela falta de informação ou de LGBTs vivendo nas áreas rurais. O tiktoker, inclusive, passa os dias respondendo a dúvidas de outros usuários da rede social.
As questões giram em torno de sua descoberta da homossexualidade, da reação com sua família e se se relacionaria também com mulheres. Mas a maior parte das mensagens são de outros LGBTs que vivem no campo com pedidos de dicas para se assumir LGBT a famílias conservadores. E a audiência do agrogay tem crescido: hoje são 27 mil seguidores e mais de 244 mil likes.
“Tenho amigos travestis, tenho amigas lésbicas, tenho amigas trans mas eles não vivem aqui na região Eu acho que tem bastante LGBT na zona rural, mas por causa do medo, eles não saem do armário”, imagina Rangel.
Aliás, foi um amigo que uniu Rangel ao seu atual companheiro, Thálibe, de 36 anos, também agricultor. “Eu tinha acabado de terminar um relacionamento com minha ex-namorada e tinha um amigo, com quem já havia conversado sobre minha sexualidade, e ele disse que tinha um amigo que era ‘a minha cara'”, descreve.
E deu match. As primeiras conversas começaram no Facebook, em duas semanas eles se conheceram pessoalmente e, após dois meses de namoro, se casaram. O casal está junto há 6 anos.
Rangel afirma ter começado o TikTok sem muito propósito, inspirado em Gustavo Tubarão, mineiro como ele, de 21 anos, com mais de 7 milhões de seguidores nas redes sociais. “Meu sonho é gravar com a turma do Gustavo Tubarão”, revela.