Não é pelas crianças
Escondida na imagem dos pequenos, a deputada estadual paulista Marta Costa (PSD) propôs um projeto de lei na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) que proíbe publicidade com LGBTs ou famílias homoafetivas.
A deputada parece desconhecer as crianças da geração Z, pouquíssimo preocupadas com quem fulano, fulana, fulane ou fulanx se deitam, e também parece não saber que orientação sexual não é –pra falar de tempos atuais–, máscara contra o coronavírus, cada dia se escolhe uma.
Marta Costa afirma que as propagandas trazem desconforto emocional a inúmeras famílias e mostram práticas danosas às crianças. É uma falácia. O medo não é de um menino ver um outdoor de shopping com dois pais e uma criança e falar “taí, vou ser gay”. O medo é de que se normalize a existência de uma família LGBT.
Os mais conservadores políticos devem saber: ninguém, numa manhã de terça-feira, depois de beber um gole de café, resolve se tornar LGBT. Afirmo que eles devem saber porque há entre eles mesmos apoiadores LGBTs. Eles sabem. Mas esses conservadores têm medo de que alguém que não é como eles, ou como o pai deles ou como o avô deles tome uma parcela do poder.
Os religiosos sabem que são mínimas as chances de algum governo obrigar padres ou pastores a realizarem cerimonias religiosas de pessoas do mesmo sexo. Mas, vez ou outra, essa profecia apocalíptica é levantada. O medo é permitir que aconteça qualquer tipo de união homoafetiva, em qualquer lugar.
Duvido, também, que os homofóbicos, aqueles mais poderosos, se atrevam a negar, digamos, um prato de comida a um LGBT, ou um copo d’água a um LGBT, ou o sal a um LGBT que, com sua voz de LGBT, peça: “me passe o sal, por favor”. Eles só não querem que os desviados tenham assento cativo na mesa. Um prato beleza. Mas, pô, uma cadeira?