A internet está doente

“Peço que vigiem, porque esta internet está doente”. Essa é uma das falas do dilacerante vídeo postado nas redes sociais pela cantora Walkyria Santos, mãe de Lucas Santos, de 16 anos.

O garoto foi encontrado morto em casa, na manhã desta terça-feira (3), na região metropolitana de Natal. A mãe acredita que os comentários de ódio direcionados ao filho depois de uma postagem com os amigos tenham sido a gota d’água para a morte.

Segundo ela, o filho estava em tratamento psicológico.

No vídeo em questão, Lucas aparece tentando dar um beijo em outro rapaz. Isso foi o suficiente para uma avalanche de execração no país em que homens não estão autorizados a demonstrar afeto por outros homens publicamente. 

Lucas chegou a fazer um outro vídeo para as redes sociais dizendo ser heterossexual. Mas para quem destila ódio, basta parecer LGBTQIA+ para sofrer homotransfobia. 

O Grupo Gay da Bahia, em seu relatório sobre mortes violentas da LGBTs em 2019, apontou que 32 pessoas morreram por suicídio no Brasil por sua orientação sexual. O documento cita um caso ocorrido em Brasília, de um jovem trans de 18 anos que morreu depois de reclamar nas redes sociais do preconceito que sentia. Era um pedido de socorro, mas a resposta veio em ódio. 

Em dados mais recentes, do primeiro semestre deste ano, 2021, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) contabilizou 9 suicídios de pessoas trans no Brasil. 

Os dados dos dois relatórios podem estar subnotificados. A tragédia pode ser ainda maior.

É importante pontuar que o suicídio não tem uma causa única. Os especialistas lembram que este tipo de morte é multifatorial. O Mapa da Saúde Mental e o CVV podem ser dois caminhos para quem precisa de ajuda especializada. 

Como disse Walkyria, a internet está doente. E é porque estamos todos nela. Nós é que estamos doentes. 

O caso Lucas é fruto da homotransfobia mais ordinária: aquela do grito de “veado” que vem das arquibancadas; ou aquela do “aja como homem” dos grupos de família; ou ainda aquela do “abraço hétero” e da “cara de homossexual terrível” que vem de Brasília.