Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Domingo no parque https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/27/domingo-no-parque/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/27/domingo-no-parque/#respond Sun, 27 Jun 2021 18:50:22 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/diferente-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=448 Em 2013, eu convidei uma urbanista para me dar uma entrevista no parque Augusta, no centro de São Paulo, durante o longo imbróglio sobre a construção de uma área de lazer ali. Eu estava no primeiro ano da faculdade e aquela apuração fazia parte de um exercício da disciplina de jornalismo online. 

Eu tirei um 9, mas com certeza minha nota seria menor se a professora Alexandra Gonsalez, da universidade Metodista de São Bernardo do Campo, onde estudei, soubesse dos outros assuntos muito mais relevantes que deixei de lado para fazer aquela matéria. 

Eu tinha vergonha de morar onde morava, 30 quilômetros ao sul do parque Augusta, num bairro pouco conhecido no distrito do Grajaú, em São Paulo. Por isso, diferentemente de meus colegas, que fizeram pautas tão comezinhas quanto a minha, não falei de alguma questão da minha rua ou do meu bairro. Mas de um lugar duas horas de ônibus, trem e metrô distante de mim.

Meus colegas e meus professores nunca souberam onde eu morava exatamente. Nunca fiz um trabalho em grupo em casa durante a graduação, por exemplo. Aliás, nem no ensino médio. Nem no ensino fundamental. Nunca um colega de escola esteve na minha casa.

Sentia uma grande vergonha do chão de cimento queimado (hoje é moda, mas no começo dos anos 2000 era a opção mais em conta) e das paredes inacabadas da minha casa que, certa vez, foram até o leito de morte de um rato. Depois de comer veneno, o roedor entrou por entre os blocos laranjas de tijolo baiano da sala e dormiu o sono eterno. O mau cheiro motivou uma investigação dos meus pais em busca do pequeno corpo, só mais tarde encontrado. Quebra parede. Tira o rato. Fecha parede.

Eu tinha medo, por exemplo, que, outra vez, a fossa escavada no quintal se abrisse e engolisse tudo, como aconteceu com a lavanderia da minha avó. Sorte ela não estar no tanque no dia, pois seria engolida pela mistura de lama e bosta.

Eu não concebia a ideia de levar alguém em casa e, de repente, acontecer um assassinato. Na infância e na adolescência, não foram poucas as vezes em que minha mãe e eu, na volta do culto de domingo, desviamos de ruas em que alguém havia acabado de ser executado.

Se eu contasse tudo isso à professora Alexandra, talvez ela baixasse minha nota. Por que raios fui até o parque Augusta falar de algo que toda semana falavam aqui na Folha ou no SPTV, se havia questões ao meu redor como acúmulo de lixo e entulho e a infestação de roedores, falta de esgoto encanado e a violência urbana?

Esse aprendizado, que poderia se restringir ao fazer jornalístico, mas que levo pra vida, desmoronou em minha cabeça nesta manhã de domingo (27), quase uma década depois, ao pensar sobre amanhã, o dia do orgulho LGBT. Do que eu devo me orgulhar? Por anos achei que me posicionar como alguém parte desta comunidade fosse ser meu maior desafio. Mas meu armário era muito maior, tinha muito mais coisas.

Durante toda a minha vida profissional até aqui segui negando quem eu era. No meu primeiro emprego como jornalista, mimetizei boa parte dos meus colegas, frequentei os mesmos bares, li os mesmos livros e tive as mesmas opiniões. Não que isso tenha sido errado. Mas eu absorvia tudo aquilo e não dava nada em troca, porque achava que não tinha o que oferecer. Me via como um terreno vazio, mas, mal sabia eu, já estava completamente loteado.

Levei um tempo até conhecer algumas referências culturais, políticas e estéticas de que todos falavam porque passei a infância e a adolescência na igreja, o único teatro, o único cinema e o único espaço de convivência social e política que eu podia acessar com o dinheiro que tinha e sem enfrentar longas distâncias de ônibus e trem.

Foi nesta manhã de domingo que percebi que meu orgulho de ser LGBT só pode existir se eu puder me orgulhar de todo o resto. Ter uma fé cristã-protestante e uma origem periférica são parte do que sou. E é isso o que posso oferecer.

Amanhã é o dia de LGBTs se orgulharem por quem são. E por completo. Orgulho por ser LGBT e torcedor de um time de futebol. E pai. E mãe. E candomblecista. E operador de máquinas agrícolas. E reverendo. E cientista. E médica do SUS. E evangélico. E tudo o que não tem mais espaço no armário e é motivo de orgulho.

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Escavando a purpurina: um mergulho na história LGBT do Brasil https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/04/escavando-a-purpurina-um-mergulho-na-historia-lgbt-do-brasil/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/04/escavando-a-purpurina-um-mergulho-na-historia-lgbt-do-brasil/#respond Fri, 04 Jun 2021 16:02:06 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/capa_tal-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=433 A história é contada pelos vencedores. E, certamente, os LGBTs não parecem ser os autores. Dos poucos rastros que existem ao olhar para trás, os jornais Chanacomchana e Lampião da Esquina ou as bíblias Devassos no Paraíso e Além do Carnaval se destacam. No entanto, quase tudo foi produzido durante ou pós o período de repressão militar no Brasil, entre 1964 e 1985. 

Mas esse jogo está virando. Pesquisadores têm ido a campo, buscando pelos trapos da memória LGBT brasileira. O acervo Bajubá, um dos mais destacados, começou em 2010. E foi por acaso.

Hoje, alguns itens do arquivo fazem parte da mostra Madalena Schwartz  – Travestis e transformistas na SP dos anos 70, em cartaz no Instituto Moreia Salles em São Paulo até setembro.

As primeiras peças do Bajubá vinham de pessoas que colecionam revistas de pornografia e ou tinham em suas estantes livros da história LGBT. Havia, também, contribuições mais informais. “Às vezes, vinha de pastinha das Spice Girls, pastinha da Madonna, pastinha da Ana Carolina”, relembra Remom Bortolozzi, psicólogo social e um dos membros-fundadores do acervo.

Boletim Chana com Chana, n.6, nov.-dez.-jan. 1984-1985
Acervo Bajubá

“Em 2010, a gente ainda não tinha o museu da Diversidade, não tinha referencia de aparato público específico sobre memória LGBT. A gente só tinha contato com os livros Devassos no Paraíso [de João Silvério Trevisan], e Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX, [de James Naylor Green], mas eram livros sem nova edição, difíceis de achar. Só se encontrava em sebo, por 200, 300 reais”, relembra.

O jeito foi se basear em acervos acadêmicos, como o da Unicamp, e em iniciativas do Grupo Gay da Bahia e do grupo Dignidade, de Curitiba, que digitalizou um dos mais conhecidos jornais gays da década de 80, o Lampião da Esquina. 

Revista Close, n.6, jun. 1980
Acervo Bajubá

Mas o estopim para a formação do acervo Bajubá foi a descoberta de um nanquim em um antiquário que retratava uma cena de sexo oral lésbico. O achado despertou nos pesquisadores uma sensação parecida com a de avistar uma pintura rupestre em uma caverna escura.

“Segundo minhas amigas, claramente [o nanquim] foi desenhado por um homem, por que uma mulher estaria chupando o umbigo da outra, não o clitóris”, debocha Bertolozzi. Mas o que chamou mesmo a atenção era a inscrição “4ª ilustração do Eu Sou Uma Lésbica”. 

Acervo Bajubá

Esses folhetins, descobriu-se depois, eram publicados na Status, uma revista de nu feminino da década de 70, baseados na obra de Cassandra Rios, uma das escritoras mais perseguidas durante a ditadura militar brasileira. Segundo uma reportagem da BBC News Brasil, durante o regime, 36 dos seus 50 livros publicados foram censurados.

“Esses trapos que a gente vai encontrando em antiquários e que pra maioria não significa nada, são a memória LGBT. A gente tem que escavar, ir atrás de sebo, leilões, nas nossas coleções pessoais, que, às vezes, nem nós mesmos damos importância”.

Nas pesquisas, Bertolozzi e sua equipe identificaram identidades e comportamentos vistos hoje como muito recentes, como a de pessoas trans, mas datados do começo do século passado.

A preservação da memória LGBT na América Latina é tema de um ciclo de debates online promovido pelo Instituto Moreira Salles, como parte da mostra Madalena Schwartz. Nos dias 9 e 10 de junho, o evento vai reunir Remom Bortolozzi e a arquivista cubana Librada González Fernández, do Archivo CubaneCuir. 

Aqui no Brasil, sem grandes pretensões, o acervo  Bajubá deslanchou na esteira da digitalização dos sebos e chegou aos dois mil e quinhentos itens –ainda sem catalogação técnica. Há, no total, 12 colaboradores, em diferentes grupos de trabalho. Os arquivos podem ser acessados pelo site e presencialmente, com agendamento prévio.

De todo o material, destacam-se o acervo de pornografia e arte homoerótica brasileira com mais de 600 edições de revistas da década de 60 aos dias de hoje, uma coleção de medicina, saúde e memória da pandemia de HIV/Aids na década de 80 e exemplares da imprensa alternativa durante a ditadura militar.

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MinhoQueens: bloco de carnaval de drags ganha versão online https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/02/13/minhoqueens-bloco-de-carnaval-de-drags-ganha-versao-online/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/02/13/minhoqueens-bloco-de-carnaval-de-drags-ganha-versao-online/#respond Sat, 13 Feb 2021 18:37:14 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/Mama_Darling_Fotografo_Victor_Vivacqua-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=326 Em 2020, 200 mil pessoas participaram do MinhoQueens, considerado o primeiro bloco Drag Queen do país. Neste ano, o bloco se torna festival e, por causa da pandemia, online. 

As lives com debates e shows com as cantoras Pepita, Lia Clark, Kaya Conky e Danny Bondy começam neste sábado (13) e se estendem pelos dias 20 e 27 de fevereiro, às 16h e às 20h, de graça.

Silvety Montilla, Alexia Twister, Jade Odara, Mackaylla Maria e Mama Darling respondem pela apresentação do evento.

Mama Darling ou Fernando Magrin, um dos organizadores juntamente com Will Medeiros e Luis Giusti, conversou com o blog sobre o festival.

Os organizadores do bloco Will Medeiros, Mama Darling (Fernando Magrin) e Luis Giusti/Victor Vivacqua – divulgação

“A cada dia será uma ode a algo. No primeiro sábado [dia 13], será uma ode ao carnaval. O segundo dia da live será uma homenagem à Casa Florescer, centro de acolhida de trans e travestis. E, no terceiro dia, vai ser uma grande homenagem à cultura LGBT de São Paulo, aos lugares LGBTs da cidade. E faremos um debate sobre o crescimento da arte drag”, elenca Magrin.

O desejo de fortalecer o debate acerca do movimento LGBT era antigo e ganhou força com o cancelamento do carnaval de rua neste ano. “Tem inteligência no mundo drag. Não é só lipsync [combinação dos movimentos do lábio com som de uma música, semelhante à dublagem], a gente é mais do que isso”, esclarece o criador do bloco.

O festival investiu também numa face social, pela parceria com a Casa Florescer. “A gente já vem trabalhando com eles desde o primeiro ano, com arrecadação de alimentos, agasalhos e maquiagem. Já fizemos festa lá dentro, roda de debate. É um trabalho que a gente admira. E, pro festival, a gente tá contratando meninas da casa para recepcionar as pessoas, é trabalho mesmo, vamos pagar”, garante.

Durante as lives, será exibida uma chave PIX para doações para a Casa Florescer.

Confira as atrações completas:

Debates: Rita Von Hunty, Salete Campari, Tchaka e Duda Navara.

Nas performances de dança e lypsinc: com Ikaro Kadoshi, Danny Cowlt, Lysa Bombom, Thalia Bombinha, Paola Cadillac, Drag Baiana, Chloe Stardust, Carlão Sensação, Indra Haretrava, Xaniqua Laquisha, Regina Schazzitt, Mahina Starlight, Marcinha do Corintho, Ginger Moon, Pabllo Vittar Cover, Gloria Groove Cover e mulheres trans da Casa Florescer.

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Vacina contra HIV: pesquisa busca voluntários brasileiros para testes https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/16/vacina-contra-hiv-projeto-busca-voluntarios-brasileiros-para-testes/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/16/vacina-contra-hiv-projeto-busca-voluntarios-brasileiros-para-testes/#respond Sat, 16 Jan 2021 20:43:52 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/ai1-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=300  

O mundo da ciência ganhou um novo ritmo com a pandemia da Covid-19. Em um ano, vimos surgir diante de nossos olhos imunizantes capazes de frear o ataque do Sars-CoV-2 ao nosso organismo.

Mas uma outra epidemia, que já dura 40 anos, ainda não teve a mesma sorte: a de Aids.

Desde as primeiras infecções, nos anos 80, quase 33 milhões de pessoas morreram por complicações decorrentes da doença, segundo o Unaids, braço da ONU focado no combate à enfermidade. Todos os anos, aqui no Brasil, há cerca de 40 mil novas infecções.

Mas, agora, uma perspectiva de mudança se desenha no horizonte.

O único estudo em fase 3 no mundo de uma vacina para prevenir o HIV está recrutando voluntários para testes no Brasil. Ao todo, serão 136 voluntários selecionados. E ainda restam muitas vagas.

O estudo internacional chamado Mosaico, ocorre também em outros países como Argentina, Itália, México, Peru, Polônia, Espanha e Estados Unidos, e tem cerca de 3,8 mil voluntários no total.

Estão envolvidas nos estudos a Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN);  Janssen Vaccines & Prevention B.V., parte das Empresas Farmacêuticas Janssen da Johnson & Johnson; o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA  e o Comando de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Exército dos EUA (USAMRDC)

Eu conversei com o professor Álvaro Furtado da Costa, médico infectologista do Hospital das Clínicas, que tem acompanhado a preparação. Segundo ele, “a vacina parece promissora”.

O estudo utiliza como vetor da vacina o Adenovírus 26, um vírus inofensivo aos seres humanos. Os voluntários precisam tomar quatro doses e a expectativa é de que, a partir da primeira, o organismo já comece a produzir os anticorpos necessários para defesa contra o HIV.

As várias mutações do HIV exigem um número pouco comum de doses. “[As mutações] são muitas, são variáveis geográficas. O HIV tem várias ferramentas de escapar do sistema imunológico”, explica o médico.

Esse é também um dos motivos pelos quais o mundo ainda não viu nascer um imunizante efetivo para a doença, como aconteceu com o novo coronavírus. “A estrutura externa do HIV tem mais variações genéticas que o novo coronavírus, que tem uma proteína só, aquela ‘coroa’. É como se o HIV fosse uma caixa de lápis de cor com vários lápis e o Sars-CoV-2 tivesse um lápis só”, traduz o infectologista.

As três primeiras doses dos testes têm um intervalo de aplicação a cada três meses. Já a última dose tem um intervalo de seis meses. Ao todo, os voluntários serão acompanhados por três anos.

Segundo os cientistas, a vacina não causa infecção pelo HIV, porque não é feita a partir do vírus vivo, e sim de uma proteína produzida artificialmente em laboratório, imitando uma das proteínas que compõem a parte externa do vírus.

Para se inscrever os interessados devem acessar o site do projeto. Só serão aprovados candidatos considerados mais vulneráveis ao vírus para este estudo: homens cisgênero (que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram) que se relacionam sexualmente com homens cisgênero, e mulheres e homens trans com vida sexual ativa.

Além disso, é necessário ter entre 18 e 60 anos e ser HIV negativo

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Diadorim: nova agência de notícias coloca LGBTs no centro do debate https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/diadorim-nova-agencia-de-noticias-coloca-lgbts-no-centro-do-debate/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/diadorim-nova-agencia-de-noticias-coloca-lgbts-no-centro-do-debate/#respond Tue, 12 Jan 2021 00:51:43 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/diadorim-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=293 Num Brasil que respirava ares da repressão entre as décadas de 70 e 80, circulavam a plenos pulmões publicações independentes da grande imprensa voltadas ao público LGBT como Lampião da Esquina e Chanacomchana

Em 2021, em dias em que o ar parece irrespirável, uma nova publicação alternativa coloca de novo a população LGBT no centro do debate. Desta vez, de forma virtual.

Desde segunda-feira (11) está no ar o site da agência de notícias Diadorim. “Temos alguns pilares que pretendemos focar: diversidade gênero, direitos, representatividade. A ideia é tentar promover e garantir direitos e denunciar preconceitos”, resume Camilla Figueiredo, repórter da Diadorim.

Assim como ela, os demais nomes do quadro fixo do site (os jornalistas Allan Nascimento e Mateus Araújo, o advogado Paulo Malvezzi e o designer Tomaz Alencar) são voluntários. 

No futuro, a ideia é ter o apoio de financiadores para que microbolsas de jornalismo sejam oferecidas a repórteres LGBTs, sobretudo os que não pertencem dos eixos Rio-São Paulo e branco-cisgênero. “A equipa [fixa] ainda não é tão diversa. Não tem pessoas trans nem negras na equipe. Mas nosso objetivo é ampliar essa voz”, projeta a jornalista.

A ideia da criação da agência surgiu durante as aulas do curso de história do movimento LGBT no Brasil do professor e advogado Renan Quinalha. O ativista, aliás, assina um artigo de opinião no site sobre o significado da epidemia de HIV/Aids para a comunidade LGBT.

Há ainda reportagens sobre a ausência de dados oficiais sobre crimes de homotransfobia no Brasil e uma entrevista com o escritor João Silvério Trevisan, um dos principais nomes da literatura LGBT do Brasil e um dos fundadores do jornal Lampião da Esquina. 

O nome Diadorim é referência à personagem do livro “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, tido como um dos símbolos LGBT+ na literatura brasileira.

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Online, festival Mix Literário mergulha nas camadas da diversidade https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/10/19/online-festival-mix-literario-mergulha-nas-camadas-da-diversidade/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/10/19/online-festival-mix-literario-mergulha-nas-camadas-da-diversidade/#respond Mon, 19 Oct 2020 16:34:36 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/Design-sem-nome-1-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=265 A 3ª edição do festival Mix Literário, um dos braços do festival Mix Brasil, será online, como tem ocorrido com boa parte de eventos recorrentes no calendário, por causa da pandemia do novo coronavírus.

O clima apocalíptico, com a chegada da Covid-19 ao Brasil, e agora distópico, com o “novo normal” imposto pelo distanciamento social, não são exatamente uma surpresa para alguns escritores LGBTQIA+, na opinião do curador do evento, Alexandre Rabelo. “Isso traz quase um caráter profético para nossa comunidade, não é à toa que nos últimos anos muitos autores queer ou minoritários pensaram a questão do fim do mundo e das distopias, temas que também iremos abordar em nossos encontros”, diz.

Os efeitos da pandemia, as discussões sobre violências e um olhar para o conservadorismo serão pauta de uma mesa que discutirá saúde mental. No entanto, o diferencial das discussões literárias do evento está no mergulho em camadas da diversidade que muitas vezes ficam à margem da própria comunidade LGBT.

Alexandre Rabelo, curador do festival Mix Literário – divulgação

“Se hoje falamos alguma coisa sobre transexualidade no meio literário e nas mídias, ainda falamos quase nada sobre narrativas transmasculinas, pauta que nos permite pensar a possibilidade de algum tipo de masculinidade que não seja tóxica. A emergência de livros escritos por pessoas não-binárias também gera uma resposta estética que acolhe muito bem as contradições e ri das polarizações”, pontua Rabelo.

O evento lança um olhar para discussões emergentes, como publicações da teoria queer e obras de LGBTs na condição de refugiados, e para o florescimento de uma nova safra de publicações de escritores de estados do nordeste.

Os vídeos das conversas serão disponibilizados gratuitamente entre os dias 11 e 22 de novembro no site do Mix Brasil. No final do ano, ficarão disponíveis no canal da Biblioteca Mário de Andrade. Colaboram na curadoria Natalia Borges Polesso e Marcelo Ariel. A Assistência é de Alexandre Willer.

Prêmios literários

Neste ano o prêmio Mix Literário entregará o troféu Coelho de Prata para alguma obra publicada em livro físico entre outubro de 2019 e setembro de 2020, cuja narrativa se relacione a vivências e questões específicas da comunidade LGBTQIA+. Em 2020, a organização abriu inscrições para autores publicados em todos os países de língua portuguesa.

A novidade desta edição é o prêmio Caio Fernando Abreu de Literatura, destinado à publicação em livro de uma obra literária inédita que tenha como foco a diversidade. A ação é uma parceria com a editora Reformatório.

Confira abaixo a programação:

Transmasculinidades em pauta e livro 

Com Luiz Fernando Prado Uchoa e Jordhan Lessa

Mediação Alexandre Willer

Distopias queer brasileiras, desviantes no fim do mundo 

Com Luisa Geisler, Wallace Ramos 

Mediação de Alexandre Willer

Dissidências queer na literatura francesa e a liberalização dos costumes 

Com Ricardo Lisias, Marcelo Ariel e Maurício Salles Vasconcelos 

Mediação de Alexandre Rabelo

Narrativas antiajuda: saúde mental na literatura queer 

Com Natalia Borges Polesso, Francisco Malmann, Mike Sullivan 

Mediação de Maya Falks

Djuna Barnes para além das divisões binárias

Com Beatriz Regina Guimarães Barbosa 

Mediação de Alexandre Rabelo

Audre Lorde no Brasil 

Com Tatiana Nascimento e Cidinha da Silva 

Mediação de Alexandre Rabelo

Olhares queer nordestinos 

Com Jarid Arraes, Itamar Vieira Junior, Marco Severo 

Mediação de Alexandre Rabelo

A emergência de publicações da teoria queer 

Com Helena Vieira 

Mediação de Paulo Salvetti

Poesia queer transmidiática 

Com Bobby Baq e Arthur Moura Campos

Mediação de Alexandre Rabelo

Printemps Littéraire: Refugiados e o livro como resistência 

Com Leonardo Tonus 

Mediação de Alexandre Rabelo

 

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Saúde mental: plataforma conecta LGBTs a serviços de acolhimento psicológico https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/saude-mental-plataforma-conecta-lgbts-a-servicos-de-acolhimento-psicologico/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/saude-mental-plataforma-conecta-lgbts-a-servicos-de-acolhimento-psicologico/#respond Tue, 08 Sep 2020 22:14:19 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Design-sem-nome-1-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=228 O site Acolhe LGBT+ lançado nesta terça-feira (8) pretende facilitar o acesso de pessoas que se identificam com letras da sigla a serviços de saúde mental em todo o país. Parte dos trabalhos do projeto ainda está em fase de teses.

A plataforma é inspirada no Mapa do Acolhimento, que orienta mulheres vítimas de violência de gênero na busca por atendimento psicológico e jurídico.

Com uso de linguagem semelhante à de aplicativos de celular, a plataforma criar os chamados “matches” entre profissionais voluntários de saúde mental e LGBTs que buscam atendimento. Qualquer profissional que se inscreva na plataforma deve ter um registro ativo no Conselho Regional de Psicologia, e essa checagem é feita pela equipe do Acolhe LGBT+, após a inscrição.

Página do site Acolhe LGBT

“Entendemos que essa checagem não garante, necessariamente, a qualidade do atendimento, ela funciona como uma maneira padronizada de confirmar que apenas pessoas confirmadamente habilitadas na área de psicologia estarão realizando os atendimentos”, diz Carú de Paula Seabra, psicólogo e coordenador da plataforma.

Os profissionais candidatos também passam por análise de currículos e testes. “Além disso, preparamos uma cartilha informativa elaborada por seis profissionais de psicologia LGBTs com informações sobre o público e as especificidades de atendimentos desse grupo. Qualquer profissional que se inscreva na plataforma recebe esse documento”, conta Seabra.

Até agora, 350 profissionais de saúde mental já se inscreveram. Cada um deles ficará responsável por um paciente. O processo de inscrição de especialistas e de pessoas em busca de acolhida é totalmente gratuito.

Uma outra funcionalidade do site é o mapeamento de serviços públicos e do terceiro setor que trabalham em diferentes formas de acolhimento e apoio a LGBTs nos 26 estados e no Distrito Federal.

O desenvolvimento da plataforma contou com uma equipe de 10 pessoas de três organizações: All Out, TODXS e Nossas. 40 pessoas voluntárias ajudaram a mapear serviços de apoio e acolhimento a pessoas LGBT+ no país inteiro. A plataforma será gerenciada por um coordenador, com o apoio pontual de quatro pessoas.​

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