Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Vacina contra HIV: pesquisa busca voluntários brasileiros para testes https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/16/vacina-contra-hiv-projeto-busca-voluntarios-brasileiros-para-testes/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/16/vacina-contra-hiv-projeto-busca-voluntarios-brasileiros-para-testes/#respond Sat, 16 Jan 2021 20:43:52 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/ai1-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=300  

O mundo da ciência ganhou um novo ritmo com a pandemia da Covid-19. Em um ano, vimos surgir diante de nossos olhos imunizantes capazes de frear o ataque do Sars-CoV-2 ao nosso organismo.

Mas uma outra epidemia, que já dura 40 anos, ainda não teve a mesma sorte: a de Aids.

Desde as primeiras infecções, nos anos 80, quase 33 milhões de pessoas morreram por complicações decorrentes da doença, segundo o Unaids, braço da ONU focado no combate à enfermidade. Todos os anos, aqui no Brasil, há cerca de 40 mil novas infecções.

Mas, agora, uma perspectiva de mudança se desenha no horizonte.

O único estudo em fase 3 no mundo de uma vacina para prevenir o HIV está recrutando voluntários para testes no Brasil. Ao todo, serão 136 voluntários selecionados. E ainda restam muitas vagas.

O estudo internacional chamado Mosaico, ocorre também em outros países como Argentina, Itália, México, Peru, Polônia, Espanha e Estados Unidos, e tem cerca de 3,8 mil voluntários no total.

Estão envolvidas nos estudos a Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN);  Janssen Vaccines & Prevention B.V., parte das Empresas Farmacêuticas Janssen da Johnson & Johnson; o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA  e o Comando de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Exército dos EUA (USAMRDC)

Eu conversei com o professor Álvaro Furtado da Costa, médico infectologista do Hospital das Clínicas, que tem acompanhado a preparação. Segundo ele, “a vacina parece promissora”.

O estudo utiliza como vetor da vacina o Adenovírus 26, um vírus inofensivo aos seres humanos. Os voluntários precisam tomar quatro doses e a expectativa é de que, a partir da primeira, o organismo já comece a produzir os anticorpos necessários para defesa contra o HIV.

As várias mutações do HIV exigem um número pouco comum de doses. “[As mutações] são muitas, são variáveis geográficas. O HIV tem várias ferramentas de escapar do sistema imunológico”, explica o médico.

Esse é também um dos motivos pelos quais o mundo ainda não viu nascer um imunizante efetivo para a doença, como aconteceu com o novo coronavírus. “A estrutura externa do HIV tem mais variações genéticas que o novo coronavírus, que tem uma proteína só, aquela ‘coroa’. É como se o HIV fosse uma caixa de lápis de cor com vários lápis e o Sars-CoV-2 tivesse um lápis só”, traduz o infectologista.

As três primeiras doses dos testes têm um intervalo de aplicação a cada três meses. Já a última dose tem um intervalo de seis meses. Ao todo, os voluntários serão acompanhados por três anos.

Segundo os cientistas, a vacina não causa infecção pelo HIV, porque não é feita a partir do vírus vivo, e sim de uma proteína produzida artificialmente em laboratório, imitando uma das proteínas que compõem a parte externa do vírus.

Para se inscrever os interessados devem acessar o site do projeto. Só serão aprovados candidatos considerados mais vulneráveis ao vírus para este estudo: homens cisgênero (que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram) que se relacionam sexualmente com homens cisgênero, e mulheres e homens trans com vida sexual ativa.

Além disso, é necessário ter entre 18 e 60 anos e ser HIV negativo

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Quanto custa entender o que é o HIV https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/quanto-custa-entender-o-que-e-o-hiv/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/quanto-custa-entender-o-que-e-o-hiv/#respond Thu, 06 Feb 2020 20:41:39 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/f01d8a4f57445dfa922f2d473c59f833c2e65d18fcf4613d54ccf3951fd7d990_5ae6657ec3a8c-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=49 Na esteira do plano de abstinência sexual idealizado pela ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, Jair Bolsonaro (sem partido) incluiu os cidadãos brasileiros que têm o vírus da Aids e usam do Sistema Único de Saúde (SUS) para se tratar.

Em conversa com a imprensa em Brasília na quarta-feira (5), o presidente afirmou que uma pessoa com HIV é “despesa para todos no Brasil”.

A declaração se deu durante um questionamento sobre cortes de verba em políticas para as mulheres. Bolsonaro defendeu a proposta de Damares, definida por ele como “mudança de comportamento necessária”.

Bolsonaro foi além e criticou “a liberdade” que, segundo ele, governos anteriores deram. “Se glamouriza certos comportamentos que certos chefes de família não concordam, chega a esse ponto, uma depravação total”.

A fala dá a entender que o presidente da República acredita que todos os portadores de HIV e que sentem os efeitos da síndrome de imunodeficiência contraíram o vírus porque foram promíscuos, como se isso fosse passível de punição.

Em 2016, durante a Olimpíada do Rio, eu estive no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional no tratamentos de doenças infectocontagiosas, na região central de São Paulo.

À época, como repórter na rádio BandNews FM, recém-formado em jornalismo e fora da cobertura olímpica, fui até um hospital para saber como os pacientes internados estavam acompanhando as competições.

Caí de paraquedas no setor de HIV/Aids e, de cara, entrevistei dois homens gays que pegaram o vírus por sexo sem proteção. E, visitando outros quartos, conversei com uma uma mulher heterossexual que pegou o vírus porque o ex-marido mantinha, sem o consentimento dela e sem proteção, relações sexuais com outras pessoas. Falei ainda com um homem heterossexual, de Dois Riachos, em Alagoas, terra da atacante Marta, naquela altura ainda em campo na olimpíada. Ele contraiu o vírus no trabalho com materiais recicláveis.

Eram pessoas comuns, com histórias de vida diferentes, que estavam sob cuidados médicos que levaram 40 anos para serem construídos. Eram brasileiros que estavam bem a ponto de conseguirem parar de pensar no tratamento da síndrome por alguns minutos e torcer pelo país na olimpíada.

Tratar os efeitos causados no organismo pela Aids custa, sim, porque o acompanhamento é eficaz, prolonga o tempo de vida de quem vive com o vírus. Tentar entender as complexidades das relações humanas e se solidarizar com quem porta o vírus não custa nada.

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