Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Fala de Bolsonaro sobre máscara ser “coisa de viado” é menos ofensiva do que parece https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/07/08/fala-de-bolsonaro-sobre-mascara-ser-coisa-de-viado-e-menos-ofensiva-do-que-parece/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/07/08/fala-de-bolsonaro-sobre-mascara-ser-coisa-de-viado-e-menos-ofensiva-do-que-parece/#respond Thu, 09 Jul 2020 00:33:58 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/bolsonaro-mascara.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=152  

As falas de Jair Bolsonaro têm poder. Destrutivo, muitas vezes. Ecoam por dias, semanas. Os silêncios também. O Brasil democrático pôde respirar melhor durante os dias em que o presidente suspendeu suas falas à imprensa, na entrada do Palácio da Alvorada, interrompendo uma sequência de acenos bélicos aos outros poderes e ameaças de rompimentos institucionais.

Mas muito mais pelo cargo do que pela pessoa em si, as falas de Bolsonaro também constroem. Consensos, principalmente. A coluna Mônica Bergamo desta Folha trouxe nesta quarta-feira trouxe um detalhe sobre o cuidado — ou a falta dele — que o presidente vinha tendo com relação ao novo coronavírus. A máscara, item indispensável na prevenção, foi considerada por Bolsonaro como “coisa de viado”.  

A publicação deste bastidor inundou a internet com críticas à fala. Mas também gerou uma onda de orgulho dos muitos “viados” do país. Não é de hoje, a palavra viado, grafada com i no lugar do e, bem coloquial mesmo, vem se ressignificando. Deixando de ser ofensa pra virar orgulho.

Nos Estados Unidos, algo semelhante aconteceu à palavra queer. Sinônimo de estranho, bizarro, a palavra passou a representar quem não se encaixa no padrão heteronormativo e binário. E hoje a letra Q integra a longa sigla LGBTQIA+.

Ser LGBT é andar de carona com a morte. As travestis têm os 35 anos como expectativa de vida e relações homoafetivas são condenadas em mais de 60 países mundo afora. LGBTs são assassinados só por serem quem são.

Assombrada pela homotransfobia e estigmatizada pela Aids, a comunidade LGBT pode considerar um presente ser associada aos uso de máscara, símbolo da vida durante a pandemia do novo coronavírus, que ceifou a vida de quase 70 mil brasileiros e brasileiras.

 

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O duplo isolamento de LGBTs na quarentena https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/17/o-duplo-isolamento-de-lgbts-na-quarentena/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/17/o-duplo-isolamento-de-lgbts-na-quarentena/#respond Fri, 17 Apr 2020 21:44:48 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/prenan2.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=83 A pandemia do novo coronavírus colocou o mundo em stand by. Todos nós, moradores deste planeta, fomos obrigados a nos recolher em alguma medida. Dentro de casa e, por vezes, dentro da gente mesmo. 

E assim como as casas de alvenaria ou madeira, as moradas de pele, carne, osso e consciência também requerem reformas de tempos em tempos. Às vezes, até uma reconstrução.

“Evitem sair do armário durante a pandemia”. Esse foi o conselho dado por uma instituição que dá suporte a LGBTs sem teto no Reino Unido, a The Albert Kennedy Trust (AKT).

O recolhimento estimulado pelos especialistas em saúde fez com que jovens não-heterossexuais fossem obrigados a viver sob o mesmo teto que familiares por vezes intolerantes.

“Não dá pra prever, nesses momentos sem precedentes, como os pais [de jovens LGBTs] reagirão. Eles, como os filhos, estão sob muito estresse”, pontua Tim Sigsworth, diretor da AKT, em entrevista à Sky News.

Pode ser arriscado generalizar uma orientação sobre saída do armário para os LGBTs. O psiquiatra e psicanalista Bruno Branquinho, que faz atendimentos na Casa 1, centro de acolhimento a LGBTs em São Paulo, lembra que “os LGBTs têm que decidir por si próprios o momento de sair do armário”.

Branquinho sugere que o momento de incertezas e fragilidade causado pelos muitos dias em casa pode aproximar as famílias. Porém, muitas vezes é na rua que parte da população LGBT encontra refúgio. Ele diz que a quarentena tem potencializado sofrimentos psíquicos que já existiam.

“Os LGBTs, principalmente os em vulnerabilidade por questões socioeconômicas e pessoas trans, têm sofrido mais. Já sofriam bastante antes. Mas alguns dispositivos de ajuda têm sido tirados por causa do isolamento. Sejam organizações de apoio e mesmo a restrição de contato com grupo de amigos, elenca Branquinho.”

Embora LGBTs vivam sofrimentos diferentes dos do restante da população, a recomendação é a mesma para todo mundo: interação, via redes sociais, com grupos em que são aceitos.

Phelipe Cruz, organizador da VHS, uma das festas mais conhecidas do público LGBT paulistano, e que foi cancelada pela pandemia do novo coronavírus, se diz “preocupado com a galera queer que está em casa”.

“O uso da internet para ter acesso a produtos de entretenimento ajuda a ter saúde mental e manter a cabeça no lugar nessas horas”, opina o também jornalista e blogueiro.

Cruz é otimista quanto ao fim da quarentena. “Quando eu entrar no cinema vou entrar abraçando todo mundo”, diz, ressaltando que geralmente não é muito esperançoso.

“Ir para um show vai ser 10 vezes mais legal. Ir para uma festa vai ser a comemoração da nossa liberdade. O artista que tá em casa, sem o direito de estar com o público, vai fazer apresentações 10 vezes mais legais”, projeta o jornalista.

Também otimista, a drag queen e youtuber Lorelay Fox lembra que a internet, único espaço de convivência para quem está isolado, é o primeiro ambiente em que LGBTs se expressam.

“Eu posso lembrar de mim, quando comecei a me aceitar como gay, há 15 anos, foi na internet que eu conheci outros LGBTs”, relembra Lorelay, que também responde por Danilo Dabague.

Com 1,5 milhões de seguidores nas redes sociais, a drag incentiva outros LGBTs a usarem o distanciamento social para se autoconhecerem.

“Uma coisa que os gays [que querem ser drag queens] fazem quando estão começando é se maquiar e postar foto na internet. Esse é o momento para isso. A internet também é um lugar para passear pelo mundo”, opina Lorelay.

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