Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Mais um texto sobre homofobia https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/10/26/mais-um-texto-sobre-homofobia/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/10/26/mais-um-texto-sobre-homofobia/#respond Wed, 27 Oct 2021 00:10:21 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/16352687286178387827542_1635268728_3x2_xl-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=500 Os dias têm sido cansativos na terra em que os preconceitos saíram da toca vestidos de opinião, sem medo de qualquer predador. 

Há duas semanas, o jogador do Minas Tênis Clube Maurício Souza fez publicações homofóbicas em seus perfis nas redes sociais. Com atraso, e pressionado por patrocinadores, o clube se mexeu.

Segundo o blog Olhar Olímpico, o clube afastou Maurício Souza, impôs multa e exigiu uma retratação por parte do atleta.

Essa é a realidade: dura, baseada em negociações financeiras. As falas preconceituosas do jogador de vôlei que na rua viram crime de ódio (em 2019, foram 32 mortes violentas de LGBTs, segundo o Grupo Gay da Bahia) não passam de risco financeiro no mundo heteronormativo. 

A diversidade está na crista da onda (e dá bom lucro), CNPJs têm surfado. Mas, menos mal, poderia ser o contrário. E é isso o que parece irritar o jogador de vôlei Maurício Souza. Não é mais legal fazer piada com gay, dá prejuízo financeiro rir de pessoas bissexuais. É perigoso apontar pessoas trans.

No dia das crianças, o atleta fez um post no Instagram sobre o personagem Superman ter se assumido bissexual. “É só um desenho, nada demais. Vai nessa e vamos ver onde vamos parar”, escreveu.

Difícil saber aonde vamos parar. Para trás é que não deve ser.  

 

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Não é opinião, é homofobia https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/01/nao-e-opiniao-e-homofobia/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/06/01/nao-e-opiniao-e-homofobia/#respond Tue, 01 Jun 2021 23:18:26 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/8f83ea34983968dee98ff336d2a54f69bdfa170476b89320dae8da61c84c1636_5ec9da508ba55.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=422 Na maior crise sanitária do século, parte da classe artística gasta energia para vociferar preconceito contra LGBTs. Na bolha do Twitter, talvez Caio Castro, com suas sofríveis atuações na televisão, a ex-bbb e pretensa apresentadora Rafa Kalimann e Patrícia Abravanel, com seu mal ajambrado programa matinal, não sejam relevantes. Mas são.

Têm milhares de seguidores nas redes, estão em programas nas maiores redes de televisão do país e são modelo de beleza e sucesso para muitos jovens. Mesmo com esse rojão de responsabilidade nas mãos, preferem lutar pelo direito de serem preconceituosos enquanto a Covid-19 faz duas mil vítimas todo dia no Brasil.

Eles não são os únicos a desviar do tema mais pontiagudo de nossos dias. Nas redes sociais, há quem clame por posicionamentos de astros e estrelas brasileiros em favor de vacinas e contra medidas descabidas do governo e falas alucinadas do presidente da República. 

O tempo das lives para nos fazer esquecer fugir do tédio dos primeiros meses da quarentena sem prazo para acabar já passou, meus caros. Os Estados Unidos mostraram que é possível retomar a vida quando se compra vacinas. Israel demonstrou que é possível pisar lá fora com segurança se tiver vacina no braço. O estudo de Serrana, aqui do Brasil, evidenciou que as vacinas funcionam, diminuem internações e mortes e não reduzem a existência humana à forma de qualquer réptil que seja. 

E quanto a nós? Quando teremos vacina no braço? Quantos de nós ainda vão morrer de uma doença para qual já há vacina? 

Patrícia Abravanel, em seu programa, ao defender as postagens homofóbicas de Caio Castro, debochou da sigla LGBTQIA+ e disse ser difícil explicar aos filhos como se dão relações homoafetivas.

Patrícia, Rafa, Caio e demais artistas semi-deuses: como se explica ao país que num dos momentos mais tristes de sua história, os senhores estavam dedicados a opinar sobre a vida sexual e afetiva alheia? 

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Nós sabemos https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/nos-sabemos/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/nos-sabemos/#respond Wed, 03 Feb 2021 01:33:18 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/foto_rn-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=316  

“O meu apelo, meu convite, minha saudação a todos os devotos e devotas de Nossa Senhora da Piedade, sobretudo para aqueles que estão em suas casas, para que através das redes sociais se sintam muito unidos”.

Esse apelo por união feito pelo arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, aconteceu logo depois dele se recusar a estar na presença do jovem Ricardo Sérgio, da equipe de comunicação da paróquia Nossa Senhora da Piedade, de Espírito Santo, interior do Rio Grande do Norte.

Pelas palavras captadas no vídeo, fica pouco claro o que incomoda o religioso. Pela expressão corporal, fica evidente o motivo. Nas redes sociais, o trecho da transmissão ao vivo recebeu uma enxurrada de comentários, quase todos em apoio ao jovem repórter e contra a homofobia.

E não importa se Ricardo Sérgio, morador de uma cidade com mais de 10 mil habitantes, é ou não gay. O que importa é entender o que o arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha,  quis dizer quando afirmou que “vivemos num mundo muito complexo”. 

Eu fiz essa pergunta à arquidiocese da capital potiguar. A resposta veio em nota. “Venho através desta, como já fiz pessoalmente por telefone, pedir desculpas se posso ter causado algum inconveniente aos irmãos dessa amada paróquia. Quem me conhece sabe que não é do meu caráter e se afasta dos ensinamentos cristãos, que há 46 anos tenho por missão difundir e levar a quantos queiram ouvir, causar qualquer tipo de constrangimento ou desqualificar quem quer que seja. Ao agente Ricardo Sérgio e demais membros daquela equipe da Pascom, meu reconhecimento pelo importante trabalho que desempenham, bem como todas as equipes da Pastoral da Comunicação em nossas paróquias”.

A falta de uma resposta objetiva dá margem a interpretações. O que o arcebispo quis dizer? Por que ele se negou a falar com o repórter? Por que “o mundo complexo” em que vivemos o fez desistir de estar diante daquele jovem?

Você que me lê e é LGBT talvez saiba. Se em algum momento, sobretudo na infância ou adolescência, você teve de corrigir o jeito de andar, ou de falar, você sabe. Se foi vítima de piadas ou risinhos por apenas existir, por vestir uma determinada peça de roupa, você sabe.

Se já  sentiu o soco no estômago e o gosto amargo na boca de ser rejeitado por alguém que admirava só por ser quem você é, como fica evidente no rosto de Ricardo Sérgio, você sabe.

Nós sabemos. E não nos esqueceremos.

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Migalhas aos desajustados https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/24/migalhas-aos-desajustados/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/24/migalhas-aos-desajustados/#respond Thu, 24 Sep 2020 19:05:21 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Design-sem-nome-2-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=245 Se posicionar na sociedade como LGBT é tentar ver sempre o copo meio cheio. Sua mãe pode não aceitar seu parceiro, mas você fica feliz por não ter sido expulso de casa. Seu pai diz que não te entende, mas te respeita. Três amigos se afastam, uns 20 desfazem amizade no Facebook, mas outros dois continuam te frequentando.

São migalhinhas de afeto que sobram a partir da saída do armário, evento quase sempre traumático e dramático. Tem muito choro, muito “onde foi que eu errei” e, quando acaba bem, termina com aquele clichê “a gente vai continuar te amando, independentemente de qualquer coisa”. Por qualquer coisa, entenda “com quem você se deita”.

Quando não existem, essas migalhas de compaixão são substituídas pela violência, como bem demonstram os casos de homotransfobia.

A fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, chamando o homossexualismo — termo em desuso há 30 anos —  de desajuste, não usa sequer o abominável argumento da “cura gay” como solução.

Milton Ribeiro aparece em vídeo gravado durante culto. Mathilde Missioneiro /Folhapress

Ribeiro coloca a homossexualidade na caixinha do irremediável, fruto de um suposto desarranjo familiar, quase um DNA maligno.

O Estado — que não é pai, mãe ou amigo de ninguém — parece não se preocupar em lançar aos LGBTs qualquer migalha de compaixão, apenas falas homofóbicas do tamanho de uma uma bigorna, direto na cabeça.

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Deve ser um inferno ser LGBTfóbico https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/deve-ser-um-inferno-ser-lgbtfobico/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/20/deve-ser-um-inferno-ser-lgbtfobico/#respond Mon, 21 Sep 2020 02:40:05 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Design-sem-nome-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=237 Os dias têm sido difíceis para os homofóbicos. Fiquei por alguns minutos olhando as fotos do casamento da Mulher Pepita. Ela estava toda de branco, emocionada, feliz. Talvez muitos homofóbicos tenham perdido também alguns minutos vendo essa foto, espumando sentimentos menos nobres do que os meus.

É que não há dia santo dia que alguém não ladre impropérios contra a comunidade LGBT. Mais recentemente foram os religiosos André e Ana Paula Valadão, pastores da Igreja Batista da Lagoinha, que voltaram ao noticiário com declarações antigas e recentes contra lésbicas, gays, bissexuais e trans.

Homofóbicos tratam “os gays” como se fossem pessoas que não pudessem sentar no mesmo banco de igreja que eles, não pudessem fazer uma prece ao mesmo Deus que o deles, não pudessem organizar um casamento.

Para os homofóbicos, “os gays” estão sempre lá, longe. Na festa fechada, na sauna, no bar lésbico, na boate, dançando em cima de um balcão. A péssima notícia (para os homofóbicos) é que LGBTs também  podem frequentar igrejas, fazer orações, casar de branco, morar num prédio de alto padrão e até fazer a gentileza de segurar a porta do elevador.

Seria inocente não pontuar que o discurso de ódio vira ato de ódio. Quando eu vejo as fotos do casamento de Pepita penso imediatamente em Dandara dos Santos, travesti moradora de Fortaleza. O discurso de ódio a espancou, a cultura do ódio a assassinou, em 2017. Será que Dandara algum dia sonhou em se casar?

Pepita sonhou. E realizou. O discurso de ódio que assassinou Dandara não impediu que Pepita se casasse, fosse feliz. E isso não deve fazer sentido para um propagador de ódio e intolerância.

É horrível ser vítima de LGBTfobia. Mas parece que ser LGBTfóbico tem sido um inferno.

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