Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Podcast desvenda os caminhos e os descaminhos de LGBTs em São Paulo https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/04/12/podcast-desvenda-os-caminhos-e-os-descaminhos-de-lgbts-em-sao-paulo/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/04/12/podcast-desvenda-os-caminhos-e-os-descaminhos-de-lgbts-em-sao-paulo/#respond Mon, 12 Apr 2021 23:01:14 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/passagemsodeida_div-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=345  

As linhas que dividem espaços no mundo são mais do que traços imaginários. Atravessar uma fronteira, divisa ou limite pode significar mais ou menos oportunidades, mais ou menos respeito, mais ou menos comida na barriga.

Por décadas, passar para dentro das linhas que delimitam a cidade de São Paulo representou ter mais oportunidades de trabalho. Mas, especificamente para LGBTs, a cidade tem outro significado: é um espaço de libertação.

“A cidade [de São Paulo] se apresenta como uma ilha de possibilidades de vida e de exercício de identidades”, descreve Bruno O., um dos responsáveis pelo podcast Passagem Só de Ida, com 8 episódios publicados nas principais plataformas.

A produção é uma parceria da Casa 1, centro de cultura e acolhimento de LGBTs no centro da capital paulista, e do Acervo Bajubá com o apoio da Rede de Mulheres Imigrantes Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, e pretende ser um documento das memórias de LGBTs que escolheram ou foram escolhidos pela capital paulista.

O desafio de cada um dos episódios é ir além do fantasma que ronda LGBTs dentro e fora de São Paulo: a LGBTfobia. “Tomamos como partido o reconhecimento das pessoas entrevistadas como agentes de suas histórias, optando por não ocultar relatos de violência mas exercitar a produção de outras narrativas a partir delas”, descreve Bruno.

O podcast tem relatos como o do jornalista Jurandy Valença, que, aos 21 anos, deixou Maceió para morar com a poeta Hilda Hilst na famosa Casa do Sol, no interior do estado. Outro episódio que vale a escuta é o que traz as histórias de Lufer, peruana que se encantou com a liberdade, a arte e as bundas dos brasileiros.

A produção do programa começou no segundo semestre de 2020, com uma equipe de pesquisadores de São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte e Paraná, e foi inteiramente executada de forma virtual.

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A terceira via branca, rica e heterossexual https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/a-terceira-via-branca-rica-e-heterossexual/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/a-terceira-via-branca-rica-e-heterossexual/#respond Mon, 09 Nov 2020 16:13:16 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/Design-sem-nome-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=281  

A Folha mostrou no sábado que o ex-ministro Sérgio Moro e o apresentador de televisão Luciano Huck se encontraram em Curitiba para definir uma aliança “de centro” em 2022. 

As conversas são iniciais, mas já dignas de divulgação por parte da imprensa. E, nessa fase inicial, mais importante do que o conteúdo é a forma. E, bem, na forma tudo parece igual.

A terceira via política já nasceu velha, com a mesma cara da dominação branca e europeia de 500 anos atrás, igualzinha à Faria Lima, com os mesmos trejeitos de Alto de Pinheiros, o Leblon cuspido e escarrado, praticamente o Batel.

E os nomes que já orbitam o pretenso caminho do meio da polarização são o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o governador de São Paulo, João Doria, e o do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Nada de novo no horizonte.

Nos Estados Unidos, Joe Biden –também pouquíssimo novo– entendeu o recado dos novos tempos e se elegeu com Kamala Harris como vice. Uma mulher negra e descendente de asiáticos. Em seu primeiro discurso como presidente, Biden fez acenos a latinos, negros e LGBTs. Acertou na forma. A ver o conteúdo.

Joe Biden e Kamala Harris – reprodução/Twitter

Se quiserem fazer frente ao bolsonarismo e ao lulismo, Moro, Huck e companhia vão precisar de mais do que só a promessas de uma agenda econômica liberal e de luta contra a corrupção. Precisarão se cercar de LGBTs, entender os gargalos do combate à violência de gênero, valorizar a ciência e sacar os porquês de a fome, a peste e a morte estarem sempre à espreita dos pretos e pobres do país.

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As zonas livres de LGBTs na Polônia https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/08/03/as-zonas-livres-de-lgbts-na-polonia/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/08/03/as-zonas-livres-de-lgbts-na-polonia/#respond Tue, 04 Aug 2020 00:31:46 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/a2-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=176

A Polônia não tem vergonha de dizer quem tem áreas livres de LGBTs. É como se gente que não segue um padrão heteronormativo fosse um tipo de praga que pudesse ser exterminada com uso de pesticida.

O vice-ministro de ativos estatais, Janusz Kowalski, questionado se todo o país deveria ser uma “zona livre de LGBT”, respondeu que, acima de tudo, a Polônia deveria estar livre da ideologia LGBT. A lógica é sustentada, segundo ele, pela Constituição, que só reconhece como família a união entre homem cisgênero e mulher cisgênero.

O posicionamento do político vem depois de sanções financeiras que a União Europeia impôs a seis cidades polonesas que se declararam “livres de LGBTs”. Resta saber se estas medidas têm peso mesmo diante de um projeto de poder legitimado pelo voto. A Polônia reconduziu à presidência o candidato que afirmou que a “ideologia LGBT” era pior que o comunismo. Andrzej Duda recebeu a maioria dos votos por isso. Ou apesar disso.

Andrzej Duda, presidente reeleito da Polônia – Janek Skarzynski/AFP

Eliminar LGBTs de países como se elimina pragas de lavouras parece ser o passo seguinte de políticos populistas de extrema direita que martelam em seus discursos que a família tradicional está morrendo.

Pode parecer uma simples disputa de narrativas, às vezes essa retórica aparece, sei lá, numa discussão hipotética sobre se um possível homem trans pode protagonizar uma também hipotética campanha de dia dos pais de uma possível marca de cosméticos.

Não é uma teoria. É um jogo de tabuleiro imposto por extremistas, com peças graúdas,​ com o objetivo de decidir quem pode sobreviver e quem não pode, a partir de padrões de gênero, afetividade e sexualidade. E a Polônia, no voto, decidiu que LGBTs não têm o direito de existir. Ao menos por lá.


Ouça o podcast Todas as Letras:

 

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Bar onde estourou revolta de LGBTs contra polícia volta a ser palco de protestos https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/03/bar-onde-estourou-revolta-de-lgbts-contra-policia-volta-a-ser-palco-de-protestos/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/03/bar-onde-estourou-revolta-de-lgbts-contra-policia-volta-a-ser-palco-de-protestos/#respond Wed, 03 Jun 2020 11:00:34 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/blogtal.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=134 Foi há 51 anos, mas parece que foi ontem. Certa noite, os marginalizados frequentadores (na maioria, homens gays) do bar Stonewall Inn, em Nova York, decidiram não mais ceder às violentas abordagens da polícia contra frequentadores do espaço. E reagiram atirando garrafas e pedras. O levante terminou com o bar em chamas.

A revolta de Stonewall é considerada como o começo da militância LGBT. Agora, mais de meio século depois, o espaço onde ficava o refúgio gay virou ponto de encontro dos históricos protestos antirracistas que varrem os Estados Unidos de costa a costa há 8 dias.

Nesta terça, um dos atos partiu da rua onde ficava o estabelecimento em East Village.

A passeata lembrou as mortes de Nina Pop, mulher trans assassinada a facadas no estado do Missouri, e Tony McDade, homem trans morto pela polícia durante uma abordagem na Flórida. Ambos os casos aconteceram no mês passado.

As pautas das marchas americanas parecem inchar ao longo dos dias e acrescentar outras demandas, como as da comunidade LGBT.

Ao contrário dos anos 70, ser gay, lésbica, trans ou drag queen não é mais crime nos Estados Unidos, mas muitos dos direitos das pessoas não heterossexuais são negados. Assim como os direitos dos cidadãos não brancos. A revolta de Stonewall lembra que levantes acontecem. Cedo ou tarde.

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Valeu, Drauzio https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/03/02/valeu-drauzio/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/03/02/valeu-drauzio/#respond Mon, 02 Mar 2020 19:20:24 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/38d183d5c612f9127c413ef7bc370f803728dc748d331b86d3b4bdcfc438a80b_5cb288762b86f-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=63 Drauzio Varella parece ser uma unanimidade. Seu poderoso serviço prestado nos últimos dias ao explicar o novo coronavírus, com o didatismo de sua voz serena, o reafirma como uma figura querida dos brasileiros.

No entanto, uma reportagem conduzida pelo médico no programa Fantástico do último domingo (1) não foi sobre o vírus, mas sobre mulheres trans encarceradas, tema que ele conhece bem desde os anos do Carandiru. Talvez ela tenha abalado essa concordância absoluta sobre sua imagem. Afinal, Drauzio tocou em pontos que, como sociedade, preferimos colocar sob o tapete ou jogar na conta do mimimi.

Diferentemente do coronavírus, não há máscara que dê conta de nos distanciar da existência de pessoas que vivem num conflito entre gênero e sexo biológico. Foram mais de 13 minutos de imagens em primeiro plano de mulheres transgênero e travestis custodiadas em penitenciárias paulistas e pernambucanas.

Camisinha, HIV/Aids, casamento, religião, nome social e cirurgia de redesignação sexual foram tópicos levantados. Até imagens de um casamento e um beijo entre uma mulher trans e um homem cisgênero apareceram no vídeo.

Mesmo que nenhum destes temas tenha sensibilizado a mais conservadora das audiências, a edição do material chocou ao falar de solidão: a inescapável sensação que em algum momento acomete os seres que vivem em coletivo. Há pelo menos 8 anos sem receber visitas na cadeia, o desabafo da detenta Susy de Oliveira Santos nos lembrou que podemos ficar sozinhos no mundo.

As histórias narradas por Drauzio no domingo à noite da família brasileira não são dramalhão. Mostram, na verdade, casos de gente que errou e está pagando. Ser LGBT não significa ser um semideus, e o contexto da reportagem explicita isso. Bingo. “Nós” e “eles” parecidos de novo, humanos.

Usar máscara no nariz e na boca pra se proteger de vírus que atacam as vias aéreas é uma escolha. Usar vendas nos olhos pra não ver no outro humanidade é um equívoco. Valeu, Drauzio.

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Dois Brasis: o que mata pessoas trans e o que paga para transar com pessoas trans https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/dois-brasis-o-que-mata-pessoas-trans-e-o-que-paga-para-transar-com-pessoas-trans/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/dois-brasis-o-que-mata-pessoas-trans-e-o-que-paga-para-transar-com-pessoas-trans/#respond Wed, 29 Jan 2020 10:00:00 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/ALVOS-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=21 O Brasil continua na primeira posição na lista dos países que mais matam travestis e transexuais no mundo. Os números estão no levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgados nesta quarta-feira (29), e usam informações da ONG alemã Transgender Europe (TGEU) para fazer a comparação com outros países.

No ano de 2019, a associação brasileira confirmou 124 assassinatos de pessoas trans, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e 3 homens trans. O número é menor em relação ao ano anterior, quando 163 pessoas trans foram assassinadas no país. O pico histórico da medição (feita desde 2008) é 2017, quando 179 pessoas foram mortas.

A metodologia do levantamento lança mão de pesquisa de casos relatados em reportagens jornalísticas. Há, ainda, registros baseados em depoimentos de testemunhas e instituições LGBTI. A associação reconhece a fragilidade dos dados, e critica o governo pela não existência de dados oficiais sobre os assassinatos de pessoas trans no Brasil. Outra queixa aponta para uma suposta subnotificação dos crimes.

29 de janeiro é, desde 2004, reconhecido como Dia da Visibilidade de Tansexuais e Travestis. À época, 27 pessoas trans estiveram no Congresso Nacional, em Brasília, em uma ação que pedia “mais respeito”.

O respeito, mostram os números apresentados acima, ainda não veio.

Mais intrigante que isso, só os dados que mostram uma outra face (igualmente violenta) do estigma que os representantes da letra T da sigla LGBTQIA+ sofrem: a fetichização.

O Google Trends, ferramenta do Google que analisa tendências de busca, mostra que, em um ano, a busca pela palavra travesti , por exemplo, se manteve estável.

O valor 100 na linha vertical representa o pico de popularidade de um termo no serviço de busca. A palavra travesti, de janeiro de 2019 a janeiro de 2020, oscilou entre 75 e 100, se mantendo próxima do pico.

As cinco principais consultas relacionadas à palavra travesti são: travesti com travesti; travesti pornô; sexo travesti; travesti comendo travesti; travesti comendo. Todos os outros 20 termos buscados mostram a palavra travesti relacionada com prostituição ou conteúdo pornográfico.

Os números sugerem que há um Brasil que espanca e mata pessoas trans e um Brasil que se masturba e paga para transar com pessoas trans. Ou talvez seja o mesmo país.

Para quem está em São Paulo

A Prefeitura e o governo de São Paulo vão oferecer serviços às pessoas trans nesta quarta-feira (29).

Serviços de emissão de RG e certidão de nascimento com nome social e pré-seleção para vagas de emprego em empresas que têm setores voltados à diversidade estão entre as atividades.

A programação do Dia da Visibilidade Trans inclui ainda palestras sobre mercado de trabalho, terapia hormonal e performances artísticas. Os serviços vão ocorrer no Largo do Arouche, na República, entre 9h e 16h.

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No meu tempo não tinha isso https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/no-meu-tempo-nao-tinha-isso/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/no-meu-tempo-nao-tinha-isso/#respond Mon, 27 Jan 2020 08:00:00 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/diferente-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=12 “No meu tempo não tinha isso de gay, não”. A frase não foi dita por uma pessoa específica, mas, creio eu, há grandes chances de você já ter ouvido ou até mesmo dito isso no seu círculo social ou, melhor, sua “bolha”.

Até a massificação da internet e a convivência virtual em sites de relacionamento, parecia que nossa família, igreja, escola ou vizinhança era uma amostra do mundo todo. E, adivinhe? Não era.

Essa bolha estoura vez ou outra quando um comentário gordofóbico, homofóbico ou racista, não incomum nos churrascos de domingo de muitas famílias brasileiras, é postado numa rede social qualquer e movimenta uma turba de críticas.

O mundo, ainda que se conteste, é redondo e cheio de gente. Em algum tempo talvez não existisse “isso de ter um monte de gay” porque gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros eram ignorados. E, quando alguém é ignorado, deixa de existir. Pensa bem, será mesmo que não tinha um LGBT “no seu tempo”?

Matemático e cientista da computação, o britânico Alan Turing era um nome importante na primeira metade do século 20. E gay. Na mesma época, a americana Audre Lorde, ativista pelos direitos civis, era, adivinhe só, lésbica. Até bem pouco tempo, brilhava nos palcos e na TV Astolfo Barroso Pinto, ou Rogéria, a “travesti da família brasileira”. E pra deixar claro que ser LGBT não faz de ninguém um semideus, havia um notável nazista que era gay. Ernest Röhm, chefe da tropa paramilitar do nazismo.

No século 21, em 2020, 50 anos depois da batalha de Stonewall, em um ocidente majoritariamente democrático não cabe mais ignorar alguém. Há LGBTs na literatura, no cinema, no teatro, no jornalismo, na política, dentro de casa, na igreja, na rua, nas chefias, nos presídios, no chão de fábrica, nos estádios, nos vestiários, na pelada do fim de semana, nas redes sociais, lendo a este post. O mundo mudou.

Com a ideia de falar de todas as letras da sigla LGBTQIA+, a Folha lançou em 2019 o podcast Todas as Letras. A primeira temporada está disponível em aplicativos que tocam podcast. Uma segunda temporada deve ser lançada neste ano.

Os textos publicados aqui vão beber dos temas levantados em episódios do podcast e outros assuntos que às vezes não cabem em áudio, mas dão um bom texto.

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