Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Historiador reúne fotos antigas de LGBTs em perfil no Instagram https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/26/historiador-reune-fotos-antigas-de-lgbts-em-perfil-no-instagram/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/26/historiador-reune-fotos-antigas-de-lgbts-em-perfil-no-instagram/#respond Fri, 26 Jun 2020 09:00:31 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/img_0783-1.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=141 Analógicas e em preto e branco, são assim quase todas as fotos do perfil LGBTIs de Todos os Tempos. E tudo bem ter pouca cor. Muitos dos registros de beijos, abraços e afetos entre pessoas do mesmo sexo são de tempos anteriores ao da bandeira colorida, das plumas e das paradas por ruas e avenidas.

As caras e bocas dos retratos carregam em si a dureza de tempos com bem menos direitos à população não heterossexual.

O curador do perfil é João Gomes Junior, professor, historiador, poeta e militante LGBTI+, que estendeu à rede social parte do resultado de sua pesquisa de mestrado.

O estudo das relações homoeróticas e a prostituição masculina no Rio de Janeiro entre 1890 e 1938 o fez encontrar fotografias de homens que mantinham relações sexuais e afetivas com outros homens.

“Depois disso, quando defendi a minha dissertação, no começo do ano passado, passei a receber de amigos e amigas e a encontrar em sites e redes sociais, de maneira muito esparsa, imagens de casais, personalidades e histórias de muitas vivências e experiências homoeróticas e homoafetivas no passado”, relembra.

A proposta das fotos vai além da continuidade do trabalho de pesquisa. “A partir do discurso moralista recorrente em nossa sociedade de que ‘no tempo deles não tinha isso’, resolvi postar as fotos, falando um pouco da história daquelas pessoas, nossos antepassados, confrontando esse discurso”, descreve o João Gomes Junior.

O projeto acabou de fazer 1 ano, e João tem o apoio de seguidores que apontam novas velhas fotografias até então escondidas na internet.

Um dos desafios é saber a identidade de todos os fotografados. “Nem sempre essas informações estão disponíveis, mesmo que eu procure exaustivamente, o que acarreta numa defasagem que, felizmente, não compromete o conteúdo postado nem a proposta da página”, pontua o historiador.

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Dois Brasis: o que mata pessoas trans e o que paga para transar com pessoas trans https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/dois-brasis-o-que-mata-pessoas-trans-e-o-que-paga-para-transar-com-pessoas-trans/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/dois-brasis-o-que-mata-pessoas-trans-e-o-que-paga-para-transar-com-pessoas-trans/#respond Wed, 29 Jan 2020 10:00:00 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/ALVOS-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=21 O Brasil continua na primeira posição na lista dos países que mais matam travestis e transexuais no mundo. Os números estão no levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgados nesta quarta-feira (29), e usam informações da ONG alemã Transgender Europe (TGEU) para fazer a comparação com outros países.

No ano de 2019, a associação brasileira confirmou 124 assassinatos de pessoas trans, sendo 121 travestis e mulheres transexuais e 3 homens trans. O número é menor em relação ao ano anterior, quando 163 pessoas trans foram assassinadas no país. O pico histórico da medição (feita desde 2008) é 2017, quando 179 pessoas foram mortas.

A metodologia do levantamento lança mão de pesquisa de casos relatados em reportagens jornalísticas. Há, ainda, registros baseados em depoimentos de testemunhas e instituições LGBTI. A associação reconhece a fragilidade dos dados, e critica o governo pela não existência de dados oficiais sobre os assassinatos de pessoas trans no Brasil. Outra queixa aponta para uma suposta subnotificação dos crimes.

29 de janeiro é, desde 2004, reconhecido como Dia da Visibilidade de Tansexuais e Travestis. À época, 27 pessoas trans estiveram no Congresso Nacional, em Brasília, em uma ação que pedia “mais respeito”.

O respeito, mostram os números apresentados acima, ainda não veio.

Mais intrigante que isso, só os dados que mostram uma outra face (igualmente violenta) do estigma que os representantes da letra T da sigla LGBTQIA+ sofrem: a fetichização.

O Google Trends, ferramenta do Google que analisa tendências de busca, mostra que, em um ano, a busca pela palavra travesti , por exemplo, se manteve estável.

O valor 100 na linha vertical representa o pico de popularidade de um termo no serviço de busca. A palavra travesti, de janeiro de 2019 a janeiro de 2020, oscilou entre 75 e 100, se mantendo próxima do pico.

As cinco principais consultas relacionadas à palavra travesti são: travesti com travesti; travesti pornô; sexo travesti; travesti comendo travesti; travesti comendo. Todos os outros 20 termos buscados mostram a palavra travesti relacionada com prostituição ou conteúdo pornográfico.

Os números sugerem que há um Brasil que espanca e mata pessoas trans e um Brasil que se masturba e paga para transar com pessoas trans. Ou talvez seja o mesmo país.

Para quem está em São Paulo

A Prefeitura e o governo de São Paulo vão oferecer serviços às pessoas trans nesta quarta-feira (29).

Serviços de emissão de RG e certidão de nascimento com nome social e pré-seleção para vagas de emprego em empresas que têm setores voltados à diversidade estão entre as atividades.

A programação do Dia da Visibilidade Trans inclui ainda palestras sobre mercado de trabalho, terapia hormonal e performances artísticas. Os serviços vão ocorrer no Largo do Arouche, na República, entre 9h e 16h.

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No meu tempo não tinha isso https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/no-meu-tempo-nao-tinha-isso/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/no-meu-tempo-nao-tinha-isso/#respond Mon, 27 Jan 2020 08:00:00 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/diferente-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=12 “No meu tempo não tinha isso de gay, não”. A frase não foi dita por uma pessoa específica, mas, creio eu, há grandes chances de você já ter ouvido ou até mesmo dito isso no seu círculo social ou, melhor, sua “bolha”.

Até a massificação da internet e a convivência virtual em sites de relacionamento, parecia que nossa família, igreja, escola ou vizinhança era uma amostra do mundo todo. E, adivinhe? Não era.

Essa bolha estoura vez ou outra quando um comentário gordofóbico, homofóbico ou racista, não incomum nos churrascos de domingo de muitas famílias brasileiras, é postado numa rede social qualquer e movimenta uma turba de críticas.

O mundo, ainda que se conteste, é redondo e cheio de gente. Em algum tempo talvez não existisse “isso de ter um monte de gay” porque gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros eram ignorados. E, quando alguém é ignorado, deixa de existir. Pensa bem, será mesmo que não tinha um LGBT “no seu tempo”?

Matemático e cientista da computação, o britânico Alan Turing era um nome importante na primeira metade do século 20. E gay. Na mesma época, a americana Audre Lorde, ativista pelos direitos civis, era, adivinhe só, lésbica. Até bem pouco tempo, brilhava nos palcos e na TV Astolfo Barroso Pinto, ou Rogéria, a “travesti da família brasileira”. E pra deixar claro que ser LGBT não faz de ninguém um semideus, havia um notável nazista que era gay. Ernest Röhm, chefe da tropa paramilitar do nazismo.

No século 21, em 2020, 50 anos depois da batalha de Stonewall, em um ocidente majoritariamente democrático não cabe mais ignorar alguém. Há LGBTs na literatura, no cinema, no teatro, no jornalismo, na política, dentro de casa, na igreja, na rua, nas chefias, nos presídios, no chão de fábrica, nos estádios, nos vestiários, na pelada do fim de semana, nas redes sociais, lendo a este post. O mundo mudou.

Com a ideia de falar de todas as letras da sigla LGBTQIA+, a Folha lançou em 2019 o podcast Todas as Letras. A primeira temporada está disponível em aplicativos que tocam podcast. Uma segunda temporada deve ser lançada neste ano.

Os textos publicados aqui vão beber dos temas levantados em episódios do podcast e outros assuntos que às vezes não cabem em áudio, mas dão um bom texto.

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