Todas as Letras https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br Diversidade afetiva, sexual e de gênero Wed, 01 Dec 2021 18:54:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Diadorim: nova agência de notícias coloca LGBTs no centro do debate https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/diadorim-nova-agencia-de-noticias-coloca-lgbts-no-centro-do-debate/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/diadorim-nova-agencia-de-noticias-coloca-lgbts-no-centro-do-debate/#respond Tue, 12 Jan 2021 00:51:43 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/diadorim-300x215.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=293 Num Brasil que respirava ares da repressão entre as décadas de 70 e 80, circulavam a plenos pulmões publicações independentes da grande imprensa voltadas ao público LGBT como Lampião da Esquina e Chanacomchana

Em 2021, em dias em que o ar parece irrespirável, uma nova publicação alternativa coloca de novo a população LGBT no centro do debate. Desta vez, de forma virtual.

Desde segunda-feira (11) está no ar o site da agência de notícias Diadorim. “Temos alguns pilares que pretendemos focar: diversidade gênero, direitos, representatividade. A ideia é tentar promover e garantir direitos e denunciar preconceitos”, resume Camilla Figueiredo, repórter da Diadorim.

Assim como ela, os demais nomes do quadro fixo do site (os jornalistas Allan Nascimento e Mateus Araújo, o advogado Paulo Malvezzi e o designer Tomaz Alencar) são voluntários. 

No futuro, a ideia é ter o apoio de financiadores para que microbolsas de jornalismo sejam oferecidas a repórteres LGBTs, sobretudo os que não pertencem dos eixos Rio-São Paulo e branco-cisgênero. “A equipa [fixa] ainda não é tão diversa. Não tem pessoas trans nem negras na equipe. Mas nosso objetivo é ampliar essa voz”, projeta a jornalista.

A ideia da criação da agência surgiu durante as aulas do curso de história do movimento LGBT no Brasil do professor e advogado Renan Quinalha. O ativista, aliás, assina um artigo de opinião no site sobre o significado da epidemia de HIV/Aids para a comunidade LGBT.

Há ainda reportagens sobre a ausência de dados oficiais sobre crimes de homotransfobia no Brasil e uma entrevista com o escritor João Silvério Trevisan, um dos principais nomes da literatura LGBT do Brasil e um dos fundadores do jornal Lampião da Esquina. 

O nome Diadorim é referência à personagem do livro “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, tido como um dos símbolos LGBT+ na literatura brasileira.

]]>
0
Saúde mental: plataforma conecta LGBTs a serviços de acolhimento psicológico https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/saude-mental-plataforma-conecta-lgbts-a-servicos-de-acolhimento-psicologico/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/09/08/saude-mental-plataforma-conecta-lgbts-a-servicos-de-acolhimento-psicologico/#respond Tue, 08 Sep 2020 22:14:19 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/Design-sem-nome-1-300x215.png https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=228 O site Acolhe LGBT+ lançado nesta terça-feira (8) pretende facilitar o acesso de pessoas que se identificam com letras da sigla a serviços de saúde mental em todo o país. Parte dos trabalhos do projeto ainda está em fase de teses.

A plataforma é inspirada no Mapa do Acolhimento, que orienta mulheres vítimas de violência de gênero na busca por atendimento psicológico e jurídico.

Com uso de linguagem semelhante à de aplicativos de celular, a plataforma criar os chamados “matches” entre profissionais voluntários de saúde mental e LGBTs que buscam atendimento. Qualquer profissional que se inscreva na plataforma deve ter um registro ativo no Conselho Regional de Psicologia, e essa checagem é feita pela equipe do Acolhe LGBT+, após a inscrição.

Página do site Acolhe LGBT

“Entendemos que essa checagem não garante, necessariamente, a qualidade do atendimento, ela funciona como uma maneira padronizada de confirmar que apenas pessoas confirmadamente habilitadas na área de psicologia estarão realizando os atendimentos”, diz Carú de Paula Seabra, psicólogo e coordenador da plataforma.

Os profissionais candidatos também passam por análise de currículos e testes. “Além disso, preparamos uma cartilha informativa elaborada por seis profissionais de psicologia LGBTs com informações sobre o público e as especificidades de atendimentos desse grupo. Qualquer profissional que se inscreva na plataforma recebe esse documento”, conta Seabra.

Até agora, 350 profissionais de saúde mental já se inscreveram. Cada um deles ficará responsável por um paciente. O processo de inscrição de especialistas e de pessoas em busca de acolhida é totalmente gratuito.

Uma outra funcionalidade do site é o mapeamento de serviços públicos e do terceiro setor que trabalham em diferentes formas de acolhimento e apoio a LGBTs nos 26 estados e no Distrito Federal.

O desenvolvimento da plataforma contou com uma equipe de 10 pessoas de três organizações: All Out, TODXS e Nossas. 40 pessoas voluntárias ajudaram a mapear serviços de apoio e acolhimento a pessoas LGBT+ no país inteiro. A plataforma será gerenciada por um coordenador, com o apoio pontual de quatro pessoas.​

]]>
0
Historiador reúne fotos antigas de LGBTs em perfil no Instagram https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/26/historiador-reune-fotos-antigas-de-lgbts-em-perfil-no-instagram/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/26/historiador-reune-fotos-antigas-de-lgbts-em-perfil-no-instagram/#respond Fri, 26 Jun 2020 09:00:31 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/img_0783-1.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=141 Analógicas e em preto e branco, são assim quase todas as fotos do perfil LGBTIs de Todos os Tempos. E tudo bem ter pouca cor. Muitos dos registros de beijos, abraços e afetos entre pessoas do mesmo sexo são de tempos anteriores ao da bandeira colorida, das plumas e das paradas por ruas e avenidas.

As caras e bocas dos retratos carregam em si a dureza de tempos com bem menos direitos à população não heterossexual.

O curador do perfil é João Gomes Junior, professor, historiador, poeta e militante LGBTI+, que estendeu à rede social parte do resultado de sua pesquisa de mestrado.

O estudo das relações homoeróticas e a prostituição masculina no Rio de Janeiro entre 1890 e 1938 o fez encontrar fotografias de homens que mantinham relações sexuais e afetivas com outros homens.

“Depois disso, quando defendi a minha dissertação, no começo do ano passado, passei a receber de amigos e amigas e a encontrar em sites e redes sociais, de maneira muito esparsa, imagens de casais, personalidades e histórias de muitas vivências e experiências homoeróticas e homoafetivas no passado”, relembra.

A proposta das fotos vai além da continuidade do trabalho de pesquisa. “A partir do discurso moralista recorrente em nossa sociedade de que ‘no tempo deles não tinha isso’, resolvi postar as fotos, falando um pouco da história daquelas pessoas, nossos antepassados, confrontando esse discurso”, descreve o João Gomes Junior.

O projeto acabou de fazer 1 ano, e João tem o apoio de seguidores que apontam novas velhas fotografias até então escondidas na internet.

Um dos desafios é saber a identidade de todos os fotografados. “Nem sempre essas informações estão disponíveis, mesmo que eu procure exaustivamente, o que acarreta numa defasagem que, felizmente, não compromete o conteúdo postado nem a proposta da página”, pontua o historiador.

]]>
0
Perfil no Twitter acompanha tramitação de projetos de lei importantes a LGBTs https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/02/perfil-no-twitter-acompanha-tramitacao-de-projetos-de-lei-importantes-a-lgbts/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/06/02/perfil-no-twitter-acompanha-tramitacao-de-projetos-de-lei-importantes-a-lgbts/#respond Tue, 02 Jun 2020 14:04:47 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/mona-bot-foto.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=127 A toque de caixa e com ajustes a serem feitos, foi colocado no ar no Twitter, no primeiro dia de junho, um robô que acompanha discussões de projetos de lei que dizem respeito ou resvalam sobre a comunidade LGBT brasileira.

O M0na Bot faz referência à gíria mona, comumente usada entre gays, mulheres trans e travestis para se referir a uma mulher heterossexual ou a um homem gay. Já bot é o diminutivo da palavra inglesa robot (robô).

Inspirado em iniciativas semelhantes, como o Bot Sentinel, o M0na foi desenvolvido em três semanas, a tempo de pegar o gancho do mês da diversidade. “Vimos que tinha carência desse tipo de serviço e corremos pra executar a proposta”, conta Caio Budel, jornalista, assessor de comunicação da deputada estadual paranaense Cristina Silvestri (Cidadania) e um dos criadores da ferramenta.

A parlamentar, embora apoiadora da causa, não tem ligação com o projeto, segundo Budel. O jornalista diz tocar a ideia com o namorado, o publicitário Pierre Míchel, e o amigo Sandro Motyl, programador. “Quisemos criar um facilitador pra que a comunidade [LGBT] se engaje nesse meio, conhecendo os projetos que estão tramitando e que atendem os nossos direitos”, argumenta.

O robô fará diariamente um pesquisa nos 27 portais dos 26 legislativos estaduais e da Câmara Distrital do DF pescando projetos pertinentes a LGBTs. Depois de uma análise feita por um ser humano a informação é postada.

No primeiro dia de funcionamento, os posts direcionavam o usuário para discussões em tramitação em estados como Amapá, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Por enquanto, Câmara Federal e Senado não farão parte da inspeção, por um atraso na finalização do mecanismo que faz a procura. Já as câmaras municipais ficaram de fora do projeto. “Mesmo sendo possível fazer essa programação, a taxa de transparência dos municípios ainda é muito baixa”, justifica Caio.

Sem a pretensão de gerar lucro, apenas como um trabalho voluntário de prestação de serviço, a iniciativa movimentou em sua divulgação perfis do Twitter com milhões de seguidores para a divulgação do robô, como o influenciador Luscas, com 6,6 milhões, e a cantora Vaslesca Popuzada, seguida por 1,1 milhões de pessoas. Até a noite desta segunda-feira, o perfil contava com pouco mais de mil seguidores.

]]>
0
LGBTs ainda precisam de autorização para ser quem são https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/05/27/lgbts-ainda-precisam-de-autorizacao-para-ser-quem-sao/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/05/27/lgbts-ainda-precisam-de-autorizacao-para-ser-quem-sao/#respond Wed, 27 May 2020 08:00:04 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/foto-blog.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=116  

Se você mantém uma relação com um parceiro ou parceira e decide juntar as escovas dentes, formalizando a união num cartório e estendendo para, quem sabe, um cerimônia religiosa seguida de uma baita festa você é privilegiado. 

Ainda que haja impedimentos financeiros ou, sei lá, uma pandemia no meio do caminho, você pode ao menos fazer planos.

Perceba, você pode não ter dinheiro e sua família e a família do seu parceiro ou parceira podem até viver em pé de guerra tal qual as de Romeu e Julieta. Mas o Estado permite a união, a sociedade não vai condená-la.

Privilégio, neste caso, não é necessariamente ter mais do que outro. É ter o suficiente e conviver com quem não tem nem o mínimo.

Ezequiel Bechara/AFP

No mundo todo há outros casais que mantém relações sólidas, querem juntar as escovas de dentes, mas estagnam quando se perguntam: nós podemos fazer isso no nosso país?

Uma cerimônia tão tradicional pode ser tabu em dezenas de países quando os noivos são do mesmo sexo. Por isso, ainda é notícia quando algum lugar do planeta estende esse direito a todos.

Nesta semana, a Costa Rica foi o primeiro país da América Central a liberar casamentos a todos os cidadãos. Por outro lado, em mais 50 nações apenas ser uma pessoa não-heterossexual podem render cadeia (prisão perpétua em alguns casos) e até pena de morte. Imagine se casar.

Dunia Araya e Alexandra Quiros foram uma das primeiras a se casar na Costa Rica – Ezequiel Bechara/AFP

Estes países também não são o destino de viagem ideal para LGBTs. Não à toa, LGBTs se perguntam no planejamento das férias se podem mesmo ir a determinado destino, se não vão apanhar, ser presos ou mortos pelo Estado por serem quem são.

Às vezes, LGBTs se perguntam se podem entrar num estádio ou passar por uma rua. Ou por uma mesma calçada cheia de gente.

Às vezes, LGBTs se perguntam se podem chegar numa festa da família acompanhados do parceiro ou da parceira.

E muitas vezes a resposta é não. Não podem.

Uma sociedade não é igualmente livre quando uma parcela dela precisa se questionar o tempo todo se pode ser quem se é.

]]>
0
A TV sem cores https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/05/22/a-tv-sem-cores/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/05/22/a-tv-sem-cores/#respond Fri, 22 May 2020 13:20:10 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/05/queereye_menor.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=104 A série Queer Eye volta ao catálogo da Netflix no dia 5 de junho. No programa, cinco apresentadores reformam casas, transformam visuais e levantam a auto estima de quem se inscreve.

Te pareceu familiar? Pois é, nada de muito diferente do que Luciano Huck e Rodrigo Faro fazem atualmente e do que Netinho de Paula e Gugu Liberato já fizeram na tv aberta dos anos 90 e 2000.

Tenho passado tempo demais em frente à tv nestes quase três meses de home office e me peguei pensando na pouca diversidade que nossa tv aberta tem.

Nas telenovelas, os beijos entre personagens do mesmo sexo ainda são alvo de debate, ainda que haja outras tentativas exitosas de debater diversidade, como na novela Bom Sucesso, finalizada, que abriu espaço para a atriz trans Gabrielle Joie.

Nos programa esportivos, zero espaço para LGBTs desde a saída de Fernanda Gentil do departamento de esporte da TV Globo. Nos programas de humor, há ainda uma enxurrada de personagens LGBTs totalmente estigmatizados.

No jornalismo, foi outro dia que o primeiro jornalista assumidamente gay apresentou o Jornal Nacional. Foi numa edição comemorativa pelos 50 anos do mais tradicional telejornal do país. Levou meio século.

No streaming, Queer Eye mostra às emissoras de TV brasileiras que não é preciso inventar a roda pra se ter um pouco de diversidade.

Se tivéssemos figuras como Karamo Brown ou Jonathan Van Ness na tv aberta entregando casas reformadas ou dando tapas no visual alheio saberíamos que essas não são iniciativas tomadas apenas por homens heterossexuais catapultados à popularidade.

Aliás, Luciano Huck, justamente por sua imersão por comunidades e rincões do Brasil em pautas de seu Caldeirão, despertou politicamente. Este despertar é motivo de especulações sobre uma possível candidatura a uma eleição presidencial do comunicador.

Netinho de Paula, conhecido pelo quadro Dia de Princesa nos anos 2000, figurou por quase uma década como político.

A TV é a fábrica de sonhos, não? Enquanto só o binarismo brilhar nas telinhas, a diversidade vai viver sempre tendo pesadelos. Ou vai sonhar no streaming.

]]>
0
O que as prisões paulistas têm a dizer sobre a sexualidade humana https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/23/o-que-as-prisoes-paulistas-tem-a-dizer-sobre-a-sexualidade-humana/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/23/o-que-as-prisoes-paulistas-tem-a-dizer-sobre-a-sexualidade-humana/#respond Thu, 23 Apr 2020 11:00:27 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/nova-versao.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=96 Os bissexuais formam a maioria da população LGBT encarcerada do estado de São Paulo.  Os números estão em um levantamento inédito feito pela SAP (secretaria de Administração Penitenciária) que ouviu, em outubro de 2019, 232.979 pessoas custodiadas de todas as 175 unidades prisionais existentes. Os números foram divulgados em janeiro.

5.680 ou 2,44% das pessoas presas em São Paulo se identificaram como LGBTs. As definições de cada letra da sigla foram apresentadas aos detentos em entrevistas baseadas em um formulário.

Depois dos bissexuais (2.471 pessoas), vêm as lésbicas na sequência (1375) e depois os gays (953). Travestis (565) e mulheres trans (239) fecham o top 5 da lista.

Os homens trans (65), os intersexuais (5) e os assexuais (7) formam o grupo que tem menos de três dígitos por categoria.

Diante de todos os números, um asterisco chama atenção para a quantidade de bissexuais. A SAP disse “imaginar” que as vivências homoafetivas são impulsionadas pela privação de liberdade. A secretaria diz que esse fator poderá ser verificado no futuro a partir de outros levantamentos sobre o perfil da população LGBTQI+ encarcerada.

É arriscado teorizar a respeito de orientações afetivo-sexuais, já que não existem marcadores objetivos para isso. No entanto, o psicólogo e terapeuta Klecius Borges esclarece que é cada vez mais aceita a ideia de que a sexualidade humana se situa em um gradiente. “[A sexualidade] pode, portanto, variar de acordo com as circunstâncias nas quais o indivíduo se encontra, assim como com o contexto social”, detalha o psicólogo especializado no atendimento a LGBTs e seus familiares.

Nos anos 50, o biólogo americano Alfred Kinsey criou uma escala para mensurar os movimentos da sexualidade humana. Entre uma pessoa exclusivamente heterossexual e uma exclusivamente homossexual havia, segundo ele, 5 variações. O podcast Todas as Letras tratou do assunto no ano passado.

Voltando a 2020. Klecius faz, portanto, o uso do termo bissexualidade no plural. “As bissexualidades podem envolver desde apenas o comportamento sexual, isto é, o ato sexual propriamente dito, a diferentes níveis de envolvimento afetivo e emocional”, esclarece.

Natália Corazza, professora de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Antropologia Social e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) endossa a ideia da sexualidade fluida, e rechaça o argumento comumente usado de que a bissexualidade pode “surgir” provocada pela privação de liberdade aliada à carência sexual.

“Eu não diria jamais que a bissexualidade surge. As pessoas vivem relações sexuais, amorosas  e prazeirosas em diversas situações sociais. A prisão é uma delas. E frente a estas situações sociais, elas vão viver relações heterossexuais, homossexuais ou bissexuais”, argumenta.

A pesquisadora que atua desde 2001 em estudos baseados em vivências em presídios masculinos e femininos afirma que a novidade no levantamento não é a existência de LGBTs no sistema penitenciário, e sim as identificações deles com as letras da sigla. “Essas categorizações identitárias [LGBTQI+] não foram cunhadas e tampouco faziam sentido frente ao cotidiano de vida de pessoas em situação de prisão até bem pouco tempo”.

Os homens trans são um bom exemplo desta diferença de vocabulário. “[Dentro dos presídios femininos] a principal categoria que seria reconhecida como homem trans seria a categoria dos sapatões”, explica. Sapatões, no contexto prisional, são pessoas que nasceram com órgãos sexuais femininos e se reconhecem a partir de atributos de gênero masculino. Têm performances, usam roupas e, eventualmente, respondem por nomes considerados como pertencentes ao gênero masculino.

Os parâmetros da pesquisa feita com detentos e detentas de São Paulo seguem uma cartilha formulada pela Secretaria de Justiça e Cidadania e apontamentos de movimentos sociais, usando de uma gramática normativa diferente de nomenclaturas informais usadas nos presídios. Ainda assim, esses levantamentos são vistos como meios de se garantir direitos à população LGBT encarcerada, como a visita conjugal homoafetiva.

]]>
0
O duplo isolamento de LGBTs na quarentena https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/17/o-duplo-isolamento-de-lgbts-na-quarentena/ https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/2020/04/17/o-duplo-isolamento-de-lgbts-na-quarentena/#respond Fri, 17 Apr 2020 21:44:48 +0000 https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/prenan2.jpg https://todasasletras.blogfolha.uol.com.br/?p=83 A pandemia do novo coronavírus colocou o mundo em stand by. Todos nós, moradores deste planeta, fomos obrigados a nos recolher em alguma medida. Dentro de casa e, por vezes, dentro da gente mesmo. 

E assim como as casas de alvenaria ou madeira, as moradas de pele, carne, osso e consciência também requerem reformas de tempos em tempos. Às vezes, até uma reconstrução.

“Evitem sair do armário durante a pandemia”. Esse foi o conselho dado por uma instituição que dá suporte a LGBTs sem teto no Reino Unido, a The Albert Kennedy Trust (AKT).

O recolhimento estimulado pelos especialistas em saúde fez com que jovens não-heterossexuais fossem obrigados a viver sob o mesmo teto que familiares por vezes intolerantes.

“Não dá pra prever, nesses momentos sem precedentes, como os pais [de jovens LGBTs] reagirão. Eles, como os filhos, estão sob muito estresse”, pontua Tim Sigsworth, diretor da AKT, em entrevista à Sky News.

Pode ser arriscado generalizar uma orientação sobre saída do armário para os LGBTs. O psiquiatra e psicanalista Bruno Branquinho, que faz atendimentos na Casa 1, centro de acolhimento a LGBTs em São Paulo, lembra que “os LGBTs têm que decidir por si próprios o momento de sair do armário”.

Branquinho sugere que o momento de incertezas e fragilidade causado pelos muitos dias em casa pode aproximar as famílias. Porém, muitas vezes é na rua que parte da população LGBT encontra refúgio. Ele diz que a quarentena tem potencializado sofrimentos psíquicos que já existiam.

“Os LGBTs, principalmente os em vulnerabilidade por questões socioeconômicas e pessoas trans, têm sofrido mais. Já sofriam bastante antes. Mas alguns dispositivos de ajuda têm sido tirados por causa do isolamento. Sejam organizações de apoio e mesmo a restrição de contato com grupo de amigos, elenca Branquinho.”

Embora LGBTs vivam sofrimentos diferentes dos do restante da população, a recomendação é a mesma para todo mundo: interação, via redes sociais, com grupos em que são aceitos.

Phelipe Cruz, organizador da VHS, uma das festas mais conhecidas do público LGBT paulistano, e que foi cancelada pela pandemia do novo coronavírus, se diz “preocupado com a galera queer que está em casa”.

“O uso da internet para ter acesso a produtos de entretenimento ajuda a ter saúde mental e manter a cabeça no lugar nessas horas”, opina o também jornalista e blogueiro.

Cruz é otimista quanto ao fim da quarentena. “Quando eu entrar no cinema vou entrar abraçando todo mundo”, diz, ressaltando que geralmente não é muito esperançoso.

“Ir para um show vai ser 10 vezes mais legal. Ir para uma festa vai ser a comemoração da nossa liberdade. O artista que tá em casa, sem o direito de estar com o público, vai fazer apresentações 10 vezes mais legais”, projeta o jornalista.

Também otimista, a drag queen e youtuber Lorelay Fox lembra que a internet, único espaço de convivência para quem está isolado, é o primeiro ambiente em que LGBTs se expressam.

“Eu posso lembrar de mim, quando comecei a me aceitar como gay, há 15 anos, foi na internet que eu conheci outros LGBTs”, relembra Lorelay, que também responde por Danilo Dabague.

Com 1,5 milhões de seguidores nas redes sociais, a drag incentiva outros LGBTs a usarem o distanciamento social para se autoconhecerem.

“Uma coisa que os gays [que querem ser drag queens] fazem quando estão começando é se maquiar e postar foto na internet. Esse é o momento para isso. A internet também é um lugar para passear pelo mundo”, opina Lorelay.

]]>
0