Bem-vindos ao Brasil invertido

A deputada paulista Janaina Paschoal (PSL) criticou a doação de marmitas a usuários de drogas e pessoas em situação de rua na região conhecida como Cracolândia, nos Campos Elísios, centro de São Paulo.

Segundo ela, se os dependentes não tiverem alimentos e sim argumentos que os convençam a se tratar, eles param de perambular por ali. Genial. Por que o governo paulista nunca pensou nisso antes?

Inversão da realidade parecida acometeu o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP). Em meio a maior crise sanitária do nosso tempo, com quase 600 mil mortos e uma vacinação vagarosa, ele decidiu levar a plenário a deliberação acerca do voto impresso. “O voto impresso está pautando o Brasil”, disse ele, enquanto a fome, o desemprego e o medo da morte pela Covid-19 pautam o país.

Esses dois exemplos são parte do combo de delírios argumentativos que acomete há muito tempo as pautas de gênero, sexualidade e afetividade.  Dia desses, a Assembleia Legislativa de São Paulo quis votar um projeto que pretendia proibir a veiculação de propagandas com a presença de LGBTs, como se ver pessoas do mesmo gênero se amando fosse criar uma onda de “contaminações gays”.

A violência doméstica tem explodido na pandemia (o número de denúncias de violência de homens contra mulheres dentro de casa aumentou em 255% no último ano, segundo reportagem da Folha) e é dentro de casa que acontecem também grande parte dos abusos sexuais contra adolescentes e crianças.

O que as autoridades tentam emplacar? A abstinência sexual como método contraceptivo, a proibição de orientações sobre saúde sexual nas escolas e a limitação de direitos de pessoas LGBTs e de famílias homoafetivas.

Aqui no Brasil, quando o telhado da sala tem furos e alaga a sala, a gente propõe acabar com a chuva.